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Roblar..

O léxico português ganhou, inesperadamente, um novo verbo para a primeira conjugação. O verbo ROBLAR.

E como enquadramos este novíssimo vocábulo?

Se fosse um verbo transitivo, admitiria o complemento direto, complemento indireto ou complemento direto e indireto. Neste caso, o conteúdo semântico do verbo transitaria para o complemento em questão. Sendo intransitivo, será um verbo que é construído sem complemento direto ou indireto. Olhando para as vicissitudes em que nasce o “ROBLAR”, estou em crer que a natureza intransitiva leva a que o próprio verbo tenha que assumir todo o conteúdo semântico. E podemos dar dois exemplos com frases simples, no presente do indicativo, uma na forma afirmativa, outra na negativa: “O Ricardo robla.” e “O Ricardo não robla.”.

Ora, percebemos que no contexto atual, a frase só fará sentido na sua forma afirmativa. E passo a explicar porquê. Será incoerência se um vegetariano comer uma pizza com presunto? Talvez seja. Será incoerência um defensor de um Serviço Nacional de Saúde a cuidar dos portugueses em exclusividade ir a um hospital privado, como aconteceu recentemente com António Filipe do PCP? Provavelmente será. Também poderia aqui referir o caso da Secretária de Estado Alexandra Leitão que se diz defensora da escola pública e tem os filhos no ensino privado que ela tanto tem perseguido. Este caso também é paradigmático no que respeita à tal malfada e maltratada coerência.

Evidentemente que, nos exemplos antes referidos, ainda que a incoerência sobressaia em todos eles, naturalmente que a gravidade das situações é muito diferente. Comer pizza ou não comer pizza, apenas se situa no domínio das convicções e implicações pessoais do vegetariano, enquanto nas restantes amostras, pela responsabilidade e influência que a intervenção dos protagonistas referidos tem na sociedade, ambas ganham uma gravidade acrescida no que respeita à coerência, podendo-se-lhes acrescentar aspetos de natureza moral e ética.

Também no caso Ricardo Robles “a bota não bate com a perdigota”. E o caso é mesmo muito grave. Fica bem evidente o total desencontro entre os princípios políticos defendidos e afirmados perante os eleitores e uma prática de vida que é a negação completa desses mesmos ideais. Como é que isto é possível? Bom, isto só é possível com um total e absoluto cinismo, a que se soma a falta de vergonha. Senão vejamos alguns exemplos que foram notícias em toda a imprensa nacional, nos últimos dias.

1 – Ricardo Robles diz que é contra a iniciativa privada e contra o lucro e agora quer beneficiar desse mesmo lucro, numa proporção de 470%;

2 – Ricardo Robles, que se diz contra a especulação imobiliária, é, ele mesmo, usando a sua terminologia, um grande especulador;

3 – Ricardo Robles, que se diz contra a alienação de bens do património público, comprou um edifício público à Segurança Social que lhe vai gerar avultadas mais-valias, cerca de 4,7 milhões de euros;

4 – Ricardo Robles, que tem sido um feroz perseguidor, com o seu Bloco de Esquerda, do AL (Alojamento Local), fez uma intervenção no edifício que adquiriu, preparando-o para esse mesmo Alojamento Local e colocando-o à venda com essa mesmíssima finalidade, por 5,7 milhões de euros(!);

5 – Ricardo Robles, que se diz um defensor do património, alterou a volumetria e a traça do edifício que comprou em Alfama, um dos bairros mais típicos de Lisboa;

6 – Ricardo Robles, em 2014, quando comprou o edifício à S.S., era deputado municipal na Assembleia Municipal de Lisboa e presentemente é vereador na CML, com os pelouros da ação social e educação e conseguiu um licenciamento em tempo “canhão” das obras, enquanto o anónimo munícipe (des)espera anos e anos pelo mesmo;

7 – Ricardo Robles, que tem dado a cara em ações contra os “despejos” de moradores e lojistas em fim de contrato de arrendamento, despejou ele mesmo cidadãos que eram uma coisa e a outra;

8 – O Ricardo Robles, que persegue a banca e os abusos que, segundo ele, ela faz aos cidadãos, beneficiou de condições privilegiadas para a obtenção de um empréstimo, conseguindo que lhe disponibilizassem 500 mil euros, com um rendimento anual declarado de cerca de 21 mil euros (não come, não usufrui de rendimentos não declarados ou não tem intenção de pagar?);

9 – O mesmo Ricardo Robles falhou ainda a entrega da declaração à Autoridade Tributária, dentro do prazo legal, após as obras de reabilitação do edifício de Alfama, para efeitos de atualização do famigerado IMI;

10 – O Ricardo Robles que viu a Autoridade Tributária valorizar o imóvel apenas em 347 mil euros, como se o mesmo tivesse 60 anos, nem deu conta do erro existente entre o valor real e o valor tributário, para efeito de pagamento de impostos!

Imaginem! Não dar conta de uma coisa que toda a gente daria…

Imaginem também que um senhor, de nome Paulo Ralha, mediático militante do Bloco de esquerda, por ser sindicalista ativo e inspetor tributário, que no passado se manifestou publicamente sobre matérias de natureza fiscal, ainda não deu sinal de vida sobre a atual polémica.

Será que no caso Ricardo Robles não estão em causa matérias que devam ser investigadas pela Autoridade Tributária e que devam ser denunciadas diligentemente pelo presidente do Sindicato dos Inspetores Tributários?

Não estarão em causa matérias relevantes do ponto de vista legal, já para não falar da sua natureza moral e ética?

Senhor Paulo Ralha, já reparou que um imóvel com valor superior a 600 mil euros está sujeito ao adicional do IMI, de iniciativa do Bloco de Esquerda, mais conhecido pelo imposto Mortágua e que, neste caso, não está a ser pago, com prejuízo evidente do erário público? Ou esse imposto é só para os outros, salvaguardando os de casa, Bloco de Esquerda, entenda-se?

E o que diz Catarina? Bom, Catarina Martins, como não seria de esperar outra coisa, defendeu o militante do Bloco de Esquerda, apostando na estratégia da vitimização e na teoria da cabala. Disse a senhora, a este propósito, que «a notícia foi mal contada». Imaginem que até foi mal contada por todos os órgãos de comunicação social do país! É mesmo caso para dizer, em linguagem de novela brasileira, “só contaram pra você”, Catarina Martins!

Já todos percebemos que na natureza do Bloco de Esquerda, os amigos são para os negócios e sabemos também que, em matéria de Língua de Esquerda, são bons conjugadores do verbo “roblar”, ou seja, na sua tradução literal, confundir, perseguir e mentir.

Quando dizemos que o “O Ricardo robla.”, o conteúdo semântico cai inteiramente no próprio verbo, fazendo o RICARDO responsável pela ação. Ele e todos os que por ação ou omissão lhe derem cobertura nesta vergonha de dimensão nacional.

À hora de terminar este texto, o protagonista Ricardo Robles já se demitiu e parece que a sucessora imediata não vai aceitar o encargo de o substituir, porque é ativista pelo direito à habitação, contra os especuladores e defensora de ocupações ilegais de casas. Espero que a primeira ação de rua que Rita Silva venha a fazer, seja uma manifestação em frente do prédio do seu colega do Bloco de Esquerda. E que essa ação de rua possa contar com a presença de Catarina Martins e Mariana Mortágua para explicarem porque não “o vão buscar (dinheiro)” ao Ricardo Robles “que o tem”, como elas advogam em relação aos outros.

Por: Henrique Monteiro

* Presidente da Distrital do CDS-PP da Guarda

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