No próximo mês, de 24 a 26, vai ter lugar em Almeida mais uma recriação histórica dos episódios históricos registados aquando da terceira invasão francesa.
Entretanto, na próxima terça-feira (24 de julho) assinala-se mais um aniversário da trágica batalha do Côa, no decurso da progressão dos militares franceses. As tropas anglo-lusas lutaram contra as forças do exército francês do Marechal Ney, no local do Cabeço Negro, junto às margens do rio. Esta batalha antecedeu a queda da fortaleza de Almeida e a sua ocupação pelas tropas que entraram em Portugal sob o comando de Massena.
Este rio, recorde-se, foi até 1297 foi o limite da fronteira entre os territórios dos reinos de Portugal e Castela; atravessa o concelho de Almeida e é um dos poucos a correr de sul para norte. Com a assinatura do Tratado de Alcanices, por D. Fernando de Castela e D. Dinis de Portugal, o castelo de Almeida – entre outras fortalezas – passou para o domínio da coroa portuguesa.
Esta zona teve uma grande importância estratégica, do ponto de vista militar; aqui se travaram, ao longo dos séculos, várias batalhas.
A importância da fortaleza de Almeida cedo foi acentuada; após o primeiro de dezembro de 1640, o rei D. João IV ordenou a sua reparação face aos momentos e às difíceis contendas que se avizinhavam. Desde logo ficou percetível o papel preponderante que Almeida ia ter no processo bélico de manutenção da independência. A vila foi transformada em sede do quartel-general do Governador de Armas da Beira, constituindo-se na mais importante praça do reino português.
D. Álvaro de Abranches, um dos conjurados da Revolução de 1640 e membro do Conselho de Guerra de D. João IV, foi o primeiro Governador de Armas de Almeida, empenhando-se de imediato no seu eficaz guarnecimento, rentabilizado o sistema de fortificações de que estava dotada. Mais tarde a história de Almeida cruza-se com as célebres, quanto dramáticas, invasões francesas.
Destas, a terceira incursão conduzida por André Massena foi a que deixou marcas mais profundas na denominada “Estrela de Pedra”. Após a conquista de Ciudad Rodrigo (Espanha), a 10 de junho de 1810, o objetivo do exército invasor francês era o domínio da praça portuguesa, que teria cerca de 2.000 habitantes e estava guarnecida com 5.000 soldados e 115 peças de artilharia. Com a aproximação das forças francesas, o comando do exército anglo-luso apelou aos habitantes para abandonarem as suas casas e levarem os seus haveres.
Nos primeiros dias de agosto de 1810 o Marechal Massena mandou avançar o Oitavo Corpo do exército francês, sob o comando de Junot, dando início ao cerco de Almeida, a 10 de agosto, cuja guarnição militar era chefiada pelo coronel inglês Guilherme Cox, sendo Tenente-Rei o almeidense Francisco Bernardo da Costa.
O cerco decorria há 17 dias quando, ao cair da noite, uma granada francesa provocou uma explosão em cadeia que destruiu o paiol principal, onde estavam armazenadas 75 toneladas de pólvora; centenas de mortos e enormes danos no interior da fortaleza foi o balanço imediato da tragédia. Na manhã seguinte, 27 de agosto de 1810, Massena exigiu do comandante inglês a rendição imediata da praça, o que acabou por suceder nessa noite.
A fortaleza de Almeida, em estilo Vauban, tem uma planta em forma de estrela irregular, integrando seis baluartes: o de S. Francisco, São João de Deus, Santa Bárbara (designado também de Praça Alta), do Trem (ou de Nossa Senhora das Brotas), Santo António e São Pedro, articulados com idêntico número de revelins. O conjunto monumental deste baluarte beirão encontra-se rodeada por largos e profundos fossos.
Para além das majestosas Portas de Santo António e São Francisco destacam-se no complexo desta fortaleza abaluartada as casamatas, espaços subterrâneos cuja estrutura e solidez os tornava imunes às bombas da época.
No interior do perímetro amuralhado encontra-se o Quartel das Esquadras que ficou a dever-se ao Conde de Lippe (Frederico Guilherme de Schaumburg-Lippe), edifício onde estiveram instaladas forças de infantaria; a antiga Casa dos Governadores da Praça de Almeida; o edifício do Corpo da Guarda Principal (onde funciona a Câmara Municipal), a Igreja da Misericórdia, a Casa dos Vedores Gerais, a Casa da Câmara e o Antigo Convento de Nossa Senhora do Loreto (atual Igreja Matriz) são outros edifícios emblemáticos desta vila do distrito da Guarda, onde vai, uma vez mais, uma interessante e expressiva recriação histórica.
Um bom pretexto para o leitor (re)visitar Almeida.