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Reverter

Editorial

1. Depois de cinco anos de contestação, o parlamento aprovou a redução do valor das portagens nas antigas Scut A22, A23, A24 e A25. Mesmo não se conhecendo ainda os valores de desconto a implementar, não temos dúvidas de que é uma medida bem-vinda. Os custos da interioridade foram ampliados pelo custo superlativo que passámos a ter de suportar com as portagens – ficámos mais distantes dos grandes centros, dos poderes de decisão, do mercado, da matéria-prima, dos aeroportos… do desenvolvimento.

Mas o debate e a votação, na Assembleia da República, merecem um comentário. O PCP, o PEV e o Bloco de Esquerda apresentaram propostas de abolição integral de portagens nas quatro autoestradas. Para além dos deputados destes partidos, também os deputados do PS eleitos pelo distrito da Guarda, Santinho Pacheco e Maria Antónia Almeida Santos, e um deputado do PS eleito por Castelo Branco, Hortense Martins, votaram pelo fim das portagens nas autoestradas do interior. Os demais deputados do PS votaram contra (e Brilhante Dias, eleito por Castelo Branco, absteve-se). O PS escolheu um outro caminho, o da descida do preço da portagem, uma decisão que penaliza o interior, vai de encontro ao princípio dominador de utilizador-pagador e é um «mal menor». A opção de três deputados da Beira Interior pode ser pontual, mas deixa expetativas de defesa do interior no futuro.

2. A novela Hotel de Turismo deverá ter um novo capítulo, não inscrito no guião original. O enredo é de todos conhecido, mas o desenlace final ainda não, e Álvaro Amaro quer reescrever os próximos episódios. “Reverter” é a palavra mágica da “geringonça” e um verbo que o presidente da Câmara da Guarda quer adotar. Já lá vai o tempo do «não pague» com que Amaro gritava em bicos de pés. E, antes que alguém venha recordar que a (re)abertura do Hotel foi a única promessa a que Amaro se deixou amarrar na campanha, o autarca está por tudo: não se vende, concessione-se ou arrende-se, ou reverta-se… nem que tenha de recorrer aos tribunais. O melhor, provavelmente, seria Amaro reverter a sua própria posição e, considerando as circunstâncias de mercado e os muitos condicionalismos, exigir ao Estado (Turismo de Portugal) a concretização do projeto que em 2010 foi definido e contratado – com a recuperação do complexo e a transformação em hotel de charme com escola de hotelaria – e que, no atual contexto, é quase seguramente a melhor opção e uma grande oportunidade para a Guarda. Encontrar um final feliz é o que se espera, nas novelas, como na vida, mas o epílogo já não pode ser prolongado por muito tempo… Se Amaro o fizer será aplaudido. De pé!

3. Dois meses após as eleições distritais do PS, a Comissão Nacional de Jurisdição deliberou finalmente sobre o pedido de impugnação do processo eleitoral e confirmou António Saraiva como presidente da Federação. Eduardo de Brito desistiu da corrida e, a partir desse momento, qualquer outro resultado que não fosse a eleição do militante da Guarda seria estranho. À falta de prova de irregularidades processuais ou outras, seria absurdo que a eleição para a federação distrital tivesse de ser repetida. Outra coisa é a eleição de delegados ao congresso que terão de ser repetidas na maioria dos concelhos. António Saraiva ganhou, mas poderá ter de conviver com mais delegados da oposição eleitos para o congresso federativo. Num momento em que o partido cerra fileiras à volta do governo e devia promover “pontes” para um próximo ano de grande azáfama eleitoral, o PS na Guarda e distrito volta a estar dividido e com uma liderança que tarda em poder tomar as rédeas do partido. Nada de novo entre os socialistas da Guarda. Os adversários agradecem.

Luis Baptista-Martins

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