Muitos anos depois de tudo começar, o debate à volta do projecto âncora da Guarda continua a congregar e a motivar todos aqueles que vivem preocupados com o futuro da cidade, do concelho e da região. A Plataforma Logística da Guarda – e vamos chamá-la assim, porque não sabemos bem se ainda é de Iniciativa Empresarial ou se já é, como eu a assinalei, de Iniciativa Municipal – é um projecto extraordinário, que pode aproveitar a situação geoestratégica da cidade e contribuir decisivamente para o seu desenvolvimento. Mas para isso, tem, definitivamente, de ser implementada.
Numa iniciativa meritória, o NERGA reuniu perto de duzentas pessoas num jantar-debate para, uma vez mais, ser discutido o futuro do projecto. Evitou-se falar do passado – que parece provocar náuseas (mas sem conhecermos os erros do passado, não podemos perceber o presente e muito menos perspectivar o futuro) –, e pediram-se ideias e sugestões para o futuro. Quem não conhecesse o projecto e as suas contingências, concluiria, de forma optimista, que em breve a Plataforma Logística da Guarda seria o mais importante pólo de desenvolvimento da região. Mas só eufemísticamente se pode falar com optimismo.
Precisamente porque não podemos dissociar o presente do passado, devemos observar alguns pontos que contribuíram para o atraso do projecto e que podem ser determinantes para o seu futuro. Podíamos começar por verificar que a localização do empreendimento, numa colina sobranceira à Gata, foi mal escolhida; ou que o desenho do loteamento tem mais a ver com um parque empresarial do que com uma plataforma logística, nomeadamente pela reduzida dimensão dos lotes (basta conhecer outras plataformas ou verificar que as duas empresas já anunciadas têm de adquirir “quarteirões” pela exiguidade dos lotes originais); ou que a Câmara deveria ter sido desde o primeiro momento não apenas um accionista de referência, mas o grande investidor e impulsionador. Mas, enfim, deixemos isso para a história.
Há outros pontos do passado do projecto que não podemos menosprezar e que ainda podem ser alterados para o salvar:
O acordo parasocial fechado, não permite a entrada de novos accionistas. Um erro fundacional que tem impedido a dinamização do projecto. E enquanto não for alterado impedirá o seu desenvolvimento. Como se disse nesta sessão, há empresas interessadas em entrar na sociedade, mas não o podem fazer.
O necessário aumento de capital social continua por realizar, pois nem todos os accionistas quiseram subscrevê-lo. Conclusão, a Câmara da Guarda, ousada, assumiu finalmente a sua responsabilidade, porém, esbarrou na Lei que não permite que uma autarquia tenha mais de 50 por cento do capital de uma sociedade (passando a ser uma empresa municipal) e assim não foi possível escriturar o aumento de capital social. Nem se sabe quando e como se resolverá o imbróglio.
O Plano de Negócios da sociedade incide na dinâmica de comercialização dos lotes e pouco mais. Devia haver um Plano de Comunicação, essencial em qualquer projecto, mas ainda mais num com estas características, com o qual seria traçada a estratégia de promoção e atracção de empresas. O que tem sido feito tem um carácter avulso e pontual, cujos resultados estão à vista.
Nunca foi criada uma gestão da sociedade PLIE. Houve e há apenas um Conselho de Administração, presidido, sempre, pela autarquia. Devia haver um “gabinete” ou unidade de gestão (chegou-se a falar num director-executivo, mas não se concretizou), em conectividade constante com o CA e em especial com o seu presidente. Esta deveria ter uma pessoa da área da gestão/comercialização (executando o business plan) e outra de comunicação (concretizando o plano de comunicação). Desta forma, evitava-se a actual e funesta situação de um empresário não saber a quem se dirigir e, pior, de ser o presidente do CA (e da Câmara) a ter de fazer de relações públicas e promotor do projecto.
Os pontos referidos, são apenas alguns dos que aqui se poderiam identificar de entre o que não foi feito, mas ainda pode ser concretizado para salvar a PLIE. São sugestões que podem contribuir decisivamente para alterar o rumo do projecto. Fica ainda mais uma: paralelamente à Plataforma deve avançar a Área Empresarial, esta deve ser aberta a todo o género de iniciativa empresarial, e a própria autarquia pode assumir a sua implementação, sem esperar por ninguém. Inclusive pode assumir a construção de alguns pavilhões para arrendar ou vender posteriormente. Desta forma incentivará mais facilmente a instalação de empresas, estas têm cada vez menos interesse em comprar terrenos, querem é ter um processo rápido de instalação.
Se estes e outros aspectos não forem urgentemente considerados, esqueçam a Plataforma da Guarda.
Luís Baptista-Martins