Fernando Rodrigues já lhe chamava uma «complicação dos demónios», mas, passados oito anos, as obras de restauro do tecto da Igreja Matriz de Castelo Rodrigo poderão ficar finalmente concluídas nos próximos dias. «Desta vez é irreversível e dentro de mês e meio esperamos assinalar o fim dos trabalhos», acredita o presidente da Junta de Freguesia da Aldeia Histórica do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Uma localidade que tem vivido «revoltada» com uma situação «lamentável e escandalosa».
O imóvel foi recuperado no final dos anos 90 pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), tendo o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) ficado incumbido de efectuar a conservação e restauro das pinturas e talhas do templo. Só que o trabalho ficou a meio porque a primeira adjudicatária da empreitada faliu e nunca mais ninguém voltou a dar andamento à obra, apesar das reclamações da população e da Junta de Freguesia. Um impasse que durou oito anos e que levou a que os painéis do tecto e outras peças tivessem sido guardados numa sala da sede da Junta, onde ainda se encontram. «Receio que algumas já não estejam em condições de voltarem a ser colocadas na igreja», diz Fernando Rodrigues, numa altura em que o recomeço da empreitada parece estar acordado. Tudo terá ficado decidido numa reunião realizada na última quinta-feira. O director regional do IPPAR de Castelo Branco, a autarquia figueirense, a Junta de Freguesia e uma empresa especializada em restauros chegaram a um «consenso» e já dispõem de um orçamento de 4.950 euros para terminar os trabalhos na zona da sacristia, pia baptismal e altar mor. A Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo também já se comprometeu a suportar essa verba «se o IPPAR não tiver dinheiro», disse o presidente da Junta.
Assim sendo, os trabalhos estarão terminados «dentro de mês e meio», espera o autarca, que ainda hoje fica perplexo com o que se passou: «Isto foi um autêntico escândalo, pois não se concluiu a obra por falta de uns cinco mil euros, já que nós tínhamos as peças e madeiras para ali serem colocadas», considera. Opinião diferente tem o director regional do IPPAR de Castelo Branco, organismo que ainda não existia quando tudo aconteceu. «Este era um problema de embrulhadas», recorda José Afonso, acrescentando que, a certa altura, ninguém sabia de quem era a responsabilidade pelas obras. «O que me foi dito várias vezes é que aqueles trabalhos não estavam afectos ao IPPAR. Tive mesmo orientações precisas da direcção regional de Coimbra, que tutelava toda a zona Centro, de que não devia fazer nada porque as obras eram da DGEMN», refere, classificado o caso de «vergonhoso». De resto, garante que este não é caso único e que também na Igreja de Castelo Mendo, outra Aldeia Histórica mas no concelho de Almeida, há problemas idênticos de «confusão de responsabilidades». A Igreja Matriz de Castelo Rodrigo, dedicada a Nossa Senhora de Rocamador, foi fundada no século XIII por uma confraria de frades hospitaleiros, cuja função principal seria a de apoiar os romeiros que se dirigiam para Santiago de Compostela e Roma. De estilo românico, sofreu remodelações no século XVII, apresentando actualmente uma torre sineira lateral, e foi classificada Monumento Nacional em 1922.
Luis Martins