No nosso país, o alcance de altos níveis de alfabetização técnica é sobrevalorizado. Tal é importante, é certo, mas, per se, insuficiente. Não há democracia possível sem um alto nível de cultura cívica − potenciado pela cultura geral da população e pelas virtudes cívicas. É fundamental educar os cidadãos para a recusa dos dogmas, estimulando o pensamento livre e responsável. É preciso promover a participação e o debate, bem como fomentar a moderação, a tolerância e a ética cívica.
É crucial reorientar o mundo da educação e trabalhar para o bem-estar da sociedade baseado também em valores humanistas e não orientado apenas pelo consumismo e pela procura de crescimento económico. Os estudos científicos na área da Psicologia Positiva indicam que a orientação para o sucesso individual e a riqueza não constituem, linearmente, fatores que contribuem para a felicidade. Tais elementos dizem respeito a: (1) emoções positivas; (2) relações positivas; (3) existência de áreas em que podemos fluir; (4) procura de realizações; (5) resiliência; (6) uma vida com sentido e pró-social; (7) evitamento de comparações com os outros. Na Grécia Antiga, procurava-se desenvolver o Homem em todas as suas potencialidades, de forma a ser um cidadão melhor − Paideia. Nas assembleias onde os jovens se deslocavam, ocorriam debates que envolviam, por exemplo, pensamento crítico e criativo, cultura e valorização da experiência dos anciãos. O processo educativo era, então, em sentido lato, contribuindo para formar o Homem e o cidadão e prolongando-se por toda vida.
A 10 de dezembro de 1948, na ONU, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial, e com o intento de cimentar as bases da nova ordem internacional. Os direitos humanos são, em essência, universais, atemporais, irrevogáveis, inalienáveis e igualitários e constituem a coluna vertebral que sustenta o possível entendimento e convivência entre os Homens. Porém, a sua história não se caracteriza de forma pacífica nem linear.
A capacidade de comunicação própria da globalização teve influência no nascimento da idade pós-contemporânea, mediante a visualização, em tempo real, dos atentados de 11 de setembro de 2001. Nos dias de hoje, a origem dos conflitos deixou de assentar nos Estados-nações, sendo agora motivada pelo confronto entre as diferenças culturais e religiosas − choque de civilizações (cf. Samuel Huntington).
A universalidade dos direitos humanos constitui o grande repto do século XXI, devendo superar o choque de civilizações. A ponte através da qual é possível superar os antagonismos entre universalismo e singularidades culturais parece assentar no multiculturalismo, a partir do qual é possível compreender os fundamentos de cada uma das diversas culturas que fazem parte do nosso mundo global. O que se pretende é que as pessoas entendam e aceitem a diversidade, tal passando pela educação e pela reflexão crítica de crenças, valores e preconceitos. Em suma, trata-se de levar a todo o planeta um marco mínimo de respeito entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre elas. A partir deste marco − direitos fundamentais −, cada povo tem a máxima liberdade de expressar as suas tradições e crenças.
O objetivo principal de uma sociedade deve ser o seu desenvolvimento em termos holísticos (material, psicológico, cultural e espiritual), em harmonia com o planeta − desenvolvimento sustentável. É, então, crucial que trabalhemos para uma nova humanidade, mais informada, assertiva, resiliente, livre e cívica, no sentido de podermos viver num mundo com mais dignidade, tolerância, funcionalidade, positividade, tranquilidade, prosperidade, sustentabilidade e felicidade.
Andreia Santa Maria (Assistente social e diretora técnica do Centro Social Paroquial de Vila Franca das Naves) e Joana Fonseca Santos (mestre em Psicologia Clínica – Intervenções Cognitivo-Comportamentais – pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra)