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Rei Artur

Corta!

Quando Ridley Scott, em 2000, realizou «Gladiador», dificilmente desconfiaria da caixa de Pandora que estava a abrir. Já em 1995 Mel Gibson tinha feito uma tentativa de recuperar um género há muito morto e enterrado, nas memórias dos grandes estúdios de Hollywood, com o seu «Braveheart». As dez nomeações e cinco orcares ganhos eram já um sinal daquilo que se seguiria. Cinco anos passaram e «Gladiador» voltou a colocar no centro das atenções os peplums. Filmes como «Ben Hur», pai de todos os peplums, há muito que tinham deixado de se ver. Os cinco oscares e as doze nomeações do filme de Scott não deixavam qualquer margem para dúvidas. Havia espaço, e saudades, pelos grandes espectáculos. Só faltava mesmo ter-se inventado um novo formato de imagem, como o cinemascope nos anos 50.

E tudo isto a propósito de «Rei Artur», a nova proposta de Jerry Bruckheimer, produtor recentemente responsável pelo sucesso «Piratas das Caraíbas», mas mais conhecido pelas suas propostas explosivas e de gosto duvidoso como «Pearl Harbor», «Bad Boys», «Con Air» ou «Armageddon», entre outros não muito distintos.

Depois de filmes como «Tróia», ou até mesmo a trilogia de «O Senhor dos Anéis», as salas de cinema recebem de novo uma aventura épica. O objectivo pelo menos seria esse. Inicialmente previsto para ser realizado por Michael Bay, o realizador fetiche de Bruckheimer, que trabalhou durante cinco anos no projecto, este acabou por ir parar às mãos de Antoine Fuqua, o realizador que em 2001 se revelou ao mundo (sem que esse tenha sido o seu primeiro filme) com «Training Day – Dia de Treino», um filme cheio de força, e que parecia anunciar ao mundo um novo realizador que valia a pena seguir com atenção. Os passos seguintes vieram desmentir isso. Na companhia de Monica Belucci e Bruce Willis, fez o fraquíssimo «Tears of the Sun». Este ano regressou com «Rei Artur», uma tentativa de mostrar uma outra versão dos factos sobre quem era de facto esse mítico Rei. E o mítico aqui adquire real importância, por ter sido conscientemente relegado para segundo plano.

Com uma imagem suja, inconfortável para quem vê, repleta de feios, porcos e maus, «Rei Artur» aproxima-se na maior parte das vezes de «Spartacus», no seu espírito ligeiramente panfletário, onde os oprimidos acabam por ser as figuras principais e quem mais merece atenção.

De luta em luta, até à libertação final, «Rei Artur» vai conseguindo sempre os mínimos olímpicos para manter a atenção e interesse do público. Um dos seus principais problemas, no entanto, começa logo num monumental erro de casting, uma vez que Clive Owen («Gorford Park») não convence nunca como Rei Artur. A falta de carisma para tal papel é gritante. Quem pode descansar é Winona Ryder. Musa, com o seu inconfundível sorriso e meigo olhar, durante os anos 90, pode continuar a roubar todas as lojas que desejar, pois já existe quem a substitua. Dada a conhecer com «Piratas das Caraíbas», Keira Knightley encanta em «Rei Artur», numa Guinevere bem diferente daquela que sempre se conheceu.

Em Portugal já ultrapassou «Harry Potter» nas bilheteiras. Poderá não ser o melhor dos filmes em cartaz, mas apresenta motivos suficientes para não ser desde logo colocado à margem dos filmes a ver, pelo menos enquanto os grandes filmes que se adivinham para as próximas semanas não chegam. Spielberg e Shyamalan chegam já este mês.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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