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Regressar de sítio nenhum

observatório de ornitorrincos

Começa hoje um novo mês. O seu nome é Setembro, para aqueles que ligam a estas coisas e gostam de pequenas informações desinteressantes do género “O primeiro prémio Nobel da Literatura foi para um francês” (neste caso a informação é também irritante) ou “Kenneth Kaunda foi professor na Tanzânia antes de ser presidente da Zâmbia” (neste outro caso, como ninguém sabe o que os dois países têm em comum, a não ser um acento circunflexo em cima de um A e ficarem localizados algures em África, a informação é irrelevante).

É comum dizer-se que os dois meses anteriores a este constituem uma altura particular do ano chamada silly1 season, por causa do calor, das férias, dos incêndios e das condecorações do Presidente da República. Espera-se, num país civilizado, que comece agora uma reasonable2 season ou, em países como a Finlândia ou a Suíça, a dull3 season. Em Portugal, o melhor que se pode esperar de um semestre com duas eleições é uma lunatic4 season. E quando numa delas a escolha será entre Cavaco e Soares para presidir a um governo de Sócrates, temo que entremos na famosa screwed up5 season. No fim desse tempo, Portugal vai parecer o Alabama depois da passagem do Katrina. Ou seja, um país do catrino.6

Com o fim dos meses mais quentes e dos dias mais longos, aumenta também a densidade e a variedade temática a abordar em colunas de opinião verticais encostadas à direita. Desta forma, nos próximos textos deste espaço discutir-se-ão assuntos como “Os Quatro Coveiros do Apocalipse”, “O Chumbo do Soldadinho” ou “Velhice Activa – Ser Presidente Depois dos Oitenta”. Observadas com atenção, todas estas ideias foram promessas eleitorais de José Sócrates. Esta diversidade é tão interessante como um aquário redondo com um único peixinho dourado. Morto.

Setembro é o mês do regresso às aulas. Em salas apinhadas, professores tentam convencer alunos da bondade de ler Camões ou de aprender trigonometria. Os miúdos resistem. Com razão. Aceder a sites pornográficos na net ou jogar as paciências de cartas no computador – as actividades que mais tempo ocuparão os jovens no futuro, locais de trabalho incluídos – não carecem de conhecimentos de literatura renascentista ou matemática. Mas, por exemplo, saber japonês daria muito jeito para conseguir ler os milhares de sites nipónicos com miúdas à disposição na web. Senhores do ministério, pensem nisso. Que esta juventude não lamente toda a vida a vossa falta de estratégia.

EU VI UM ORNITORRINCO

José Peseiro

Depois das derrotas com o Udinese e da consequente eliminação do Sporting da Liga dos Campeões – ou como os mais optimistas lhe chamaram “o apuramento para a Taça UEFA” – José Peseiro mostrou-se tão conformado e acostumado a perder como um general do exército francês. O treinador do Sporting tem, na realidade, alguns paralelismos históricos com o imperador Napoleão Bonaparte. Além de baixote e gorducho, ganhou a Europa quase toda até levar no canastro dos russos. Só falta agora que o enviem para a sua ilha de Elba. E se algum dia regressar, desejo que o seu Waterloo seja em Alvalade como treinador do Benfica.

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1 Tonta

2 Sensata

3 Aborrecida

4 Lunática

5 hmmm, digamos… Lixada

6 Segundo a Wikipédia, gíria para órgão sexual masculino

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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