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Regenerar é preciso

Editorial

1. Enquanto as preocupações orçamentais ocupam o debate público e a vida política vai sendo resumida a “soundbyts” televisivos, a política, não se discute. Portugal é um país de fracas elites (e quem viveu em qualquer outro país e conviveu com outras culturas avalia isso de forma intuitiva). E este é um dos grandes problemas da pátria, até porque nenhuma sociedade pode sobrevir e crescer sem elites, sem pessoas “maiores”, sem vultos e referências – e, convenhamos, bastaria regressar às “presidenciais” para perceber a orfandade em que vivemos. Mas essa privação nunca é percebida pelos portugueses. Pelo contrário, todos nos sentimos elevados à condição de grande sapiência, de sabermos muito e até termos a jactância de ridicularizar os outros na nossa arrogante postura superior – todos sabemos mais que o vizinho do lado. E quando chegamos aos políticos… pior ainda. A maioria sabe pouco, não percebe nada e tem um umbigo enorme. E os piores, normalmente, são os que passaram a vida nas jotas, que cresceram nos partidos e não sabem fazer nada mais do que vida partidária. Estranhamente são muitos e poucas são as exceções.

2. A direita tem passado por entre os pingos da chuva da vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, esse notável “cata-vento” que Pedro Passos Coelho quis afastar da corrida a Belém e não conseguiu. Vale a pena lembrar, porque em política os factos sucedem-se e a amnésia generaliza-se. Este episódio só tem relevância, de novo, porque o resultado das últimas eleições mostra que continua a ser o centro político a definir o sentido mais importante do voto, o quem ganha e o quem perde. Ora se Marcelo ganhou pelo posicionamento ao centro, e se Passos Coelho deslocou visivelmente o PSD para a direita, seria natural que este tema estivesse na agenda e que no partido se discutisse o futuro do PSD. Mas não. Passos Coelho quer novo mandato e sente que pode voltar a ser primeiro-ministro. E os militantes que querem regressar depressa ao poder acreditam nessa possibilidade e que Passos Coelho, que foi o rosto da austeridade e do «ir além da troika», também pode ser o rosto e a liderança do «regresso ao centro». Estão enganados. Hoje, o PSD em muitos contextos posicionou-se à direita do CDS e a maioria dos portugueses não quer o regresso de Passos. Curiosamente, o parceiro de coligação percebeu depressa o que “aí vem” e promoveu a renovação. Enquanto o PSD vai dormindo com Passos, o CDS vai despertar com Assunção Cristas. A vingança serve-se fria e Marcelo, o “cata-vento”, não dorme: serenamente, o presidente eleito, irá segurar Costa enquanto puder e Passos estiver vivo.

3. Quando há cinco anos fiz um plano de comunicação para o IPG e defini um novo conceito de comunicação e promoção do Politécnico da Guarda, com uma nova linguagem e uma nova imagem, percebi o quanto era difícil criar ruturas e afirmar uma nova imagem, com um novo conceito e destituída de elementos identitários localistas e balofos. A Universidade da Beira Interior arriscou mudar a sua imagem e, naturalmente, algumas vozes se levantam contra a falta de relação com a região. A UBI quer falar para o mundo, mas os arautos do conhecimentos local querem falar para a “terrinha”; a UBI quer modernizar-se e desenhar um novo tempo, mas muitos preferiam manter um brasão ou ter uma roda dentada… O novo logotipo podia ser mais “legível” e rapidamente identificável, mas tem leveza e traço para se entranhar. Pode-se gostar ou não da nova imagem, mas o conceito estético e a linguagem adotada são um bom prenúncio para a afirmação da UBI do Séc. XXI.

Luis Baptista-Martins

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