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Reflexão vs Unidade

Crónica Política

Saúdo todos aqueles que, ao longo de 16 anos, corporizaram o projeto do jornal O INTERIOR, parabéns e fortaleçam o elo na cadeia reivindicativa e aglutinadora no processo regional de exigência em torno do desenvolvimento sustentado, este arredado, fruto das opções políticas daqueles que sempre tiveram responsabilidades na gestão governativa.

Falando em desenvolvimento, aproveito para centrar-me na página oficial da Câmara da Guarda que menciona: «O desenvolvimento sustentável é uma das prioridades da Câmara Municipal da Guarda. A autarquia tem vindo a desenvolver práticas que valorizam a proteção e a conservação da natureza…» «…a proteção das florestas…» perante isto, questiono: Quais as razões de não publicitar de forma explícita e transparente todas as decisões referentes ao processo de Plano de Rearborização na cidade, bem como a publicitação dos referidos estudos?

Espero que não aconteça resposta tardia aos deputados municipais da CDU perante as questões colocadas, através do Sr. presidente da Assembleia Municipal. Saúdo todas as iniciativas populares e de outras organizações, nomeadamente da Quercus, no processo de intervenção pública referente ao abate das árvores.

Quanto às demais intervenções na malha urbana é fundamental que haja uma auscultação ao nível dos diversos bairros, aqui tem um papel fundamental o patamar da intervenção da Junta de Freguesia da Guarda, no âmbito do ordenamento do território e urbanismo, articulando com a Câmara o referido plano de intervenção e potenciar a auscultação dos fregueses sobre a referida intervenção. O património público não é circunscrito às decisões de alguns, é dever de todos intervirem no patamar representativo e participativo.

Não queria deixar de aflorar a minha posição acerca da grave carência de profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiros e médicos, fiquei estupefacto com a convergência das organizações representativas dos estudantes e profissionais de medicina defendendo “numerus clausus” mais apertados no acesso ao curso de Medicina. Afirmam que há médicos a mais, não sei onde? Se há a mais, apresentem propostas concretas de fixação ou mobilidade de recursos para onde faltam e onde há a mais, recordo sempre a estória popular da estatística da galinha.

Li atentamente o documento da ANEM, não compreendo alguns pontos da argumentação quando no distrito da Guarda faltam dezenas de médicos, sejam médicos de família, cardiologistas, ortopedistas, radiologistas entre outros. Mais ainda quando referem que Portugal revela várias assimetrias na distribuição médica entre regiões rurais e urbanas, tal como entre especialidades médicas, potenciando a perceção de falta de médicos.

Gostaria de saber se os milhares de utentes sem médico de família, as listas de espera infindáveis nas diversas especialidades, o envelhecimento dos profissionais, a contratação de médicos reformados, a explosão da subcontratação de profissionais são ou não são dados resultantes dos excessivos “numerus clausus”?

Alguém compreenderá que os impostos dos trabalhadores, contribuindo para a formação dos seus filhos nas diversas profissões da saúde, culminem na “imposição” da emigração quando os seus avós, pais, irmãos, sobrinhos necessitam deles ao longo do seu ciclo vital? Basta!

Gostaria que houve esforços na criação de uma plataforma reivindicativa de todas as profissões de saúde, aliados aos utentes, na defesa do Serviço Nacional de Saúde, este, como esteio na formação e prestação. Infelizmente, por interesses corporativos ou outros ocultos, vejo muitos a fugirem à unidade na ação e sobretudo muitos alheados de servir o interesse público.

As conquistas sociais, no seio do SNS, foram dadas com carreiras profissionais dignas, independentemente da profissão e pelos ganhos em saúde, fruto do esforço de todos os profissionais.

Quando as opções ideológicas levaram à destruição paulatina do SNS muitos faltaram à chamada, infelizmente. Espero que o “tempo novo” possa constituir uma revitalização dos esteios fundamentais do SNS, sem descurar o mundo rural e mesmo o mundo urbano, nomeadamente no interior.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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