Se é verdade que a metade mais pobre da população mundial possui a mesma riqueza que as 85 pessoas mais ricas do mundo, a conclusão só pode ser esta: a igualdade possível só existirá quando o direito ao trabalho não for uma concessão exclusiva do capital, pois enquanto este precisar de mão-de-obra aplicará sempre o princípio de pagar o mínimo para ganhar o máximo.
Os donos e senhores de tudo isto escolhem temas, como as ameaças ao crescimento económico, o terrorismo, as alterações climáticas, afirmando, cinicamente que querem reduzir a pobreza sem mexerem nas estruturas do poder estabelecido, assumindo a contradição do papel do Estado (antes achavam que deveria ser cada vez menor, agora pensam que tem de ser muito importante e interventivo).
A alta finança e a elite mundial querem um novo reordenamento onde tudo permaneça mais ou menos como está, continuando a aplicar-se o princípio dos ricos e pobres e, após a crise, a indústria e o comércio continuem na senda da eterna exploração do homem pelo homem. A burguesia não tem uma solução sustentável a não ser a defesa do seu próprio umbigo.
A intervenção política tem de pautar-se pela reformulação de novas propostas, opondo-se ao neoliberalismo, ao populismo saloio e ao domínio do mundo pelos mesmos de sempre onde ganham destaque as multinacionais, os cartéis da droga, a indústria das armas, do medicamento e do petróleo. E afirmar que a globalização em vez ter, apenas e tão só, a selvática concretização do lucro, terá de ter em conta o sistema solidário que respeite os direitos humanos, acabando de uma vez por todas com essa visão redutora da economia, estimulando a reflexão, articulando espaços de verdadeira parceria entre Estados, resolvendo processos de exclusão e desigualdade social, valorizando as experiências reconhecidamente válidas, apostando entre etnias e povos, condenando todas as formas de humilhação e sujeição de um ser por outro.
A agenda deve incluir obrigatoriamente a discussão da crise financeira mundial, a justiça climática e, naturalmente, a reflexão do dia que hoje comemoramos, o Dia Internacional da Mulher, pois, como todos bem sabemos, a Mulher continua a ser o elo menor e o alvo de todos os movimentos machistas. A começar desde logo pelo papel desigual que lhe é atribuído por todas as religiões. O Dia Internacional da Mulher deve ser o momento de pensar que em todo o mundo a justiça e a igualdade imperem entre todos os seres. A hora é de rutura com as práticas dos cúmplices do pensamento instituído. Os velhos e manhosos políticos já perceberam que a crise é de mentalidade e que o “seu” capitalismo está em desuso e decadência.
É por toda esta cadeia de razões que manda a inteligência mudar o sistema, aceitando, de imediato, a rutura com as práticas correntes nesse papel fundamental da criação de novos conceitos, novos preceitos, novas apostas e novos desafios, deixando de privilegiar apenas os interesses dos grandes e poderosos, criando assim mecanismos de investimento, na perspetiva da nova fronteira com o objetivo de um novo e muito melhor horizonte, respeitando a pessoa, preservando o clima, dando um futuro sustentável a toda a humanidade para que não continuemos a dar razão ao Alberto Pimenta no seu eterno lamento, nesse célebre e atualizadíssimo “Discurso do Filho da Puta”.
Por: Albino Bárbara