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Raul Solnado recordado em Maceira

Humorista viveu parte da meninice nesta aldeia do concelho de Fornos de Algodres, de onde a mãe era natural

Na pequena aldeia de Maceira (Fornos de Algodres), os já poucos familiares de Raul Solnado que restam na terra tiveram de acompanhar o funeral do actor pela televisão. Celina Almeida, que cresceu a ouvir as histórias da meninice do primo direito, foi impedida de ir a Lisboa devido a problemas de saúde. Esta parente do humorista e os dois filhos eram já a única ligação familiar do comediante à aldeia.

Apesar de ter nascido em Lisboa, Raul Solnado passou parte da infância em Maceira, de onde a mãe era natural. O pai era oriundo da zona da Sertã, no distrito de Castelo Branco. «A mãe morreu de parto e pouco tempo depois ele veio para a terra e foi criado pela avó», conta Celina Almeida, de 73 anos. Chegada a idade escolar, por volta dos sete anos, foi viver com uma tia em Lisboa, irmã da mãe, e mais tarde com o pai, que entretanto voltara a casar. A diferença de seis anos de idade entre Raul Solnado e Celina Almeida é o suficiente para que a familiar do mentor do Teatro Villaret não guarde memórias da sua infância. Mas ouviu muitas vezes dizer que o humorista que pôs o país a rir com o “sketch “A Guerra de 1908” ou os episódios do programa “Zip Zip” «era um traquina» em criança. «Já em miúdo tinha vocação para fazer rir», assegura.

«O meu pai contava que o chegou a apanhar muitas vezes a fazer caretas em frente ao espelho e que se arreliava com ele por causa disso», recorda Celina Almeida, que acabou por cruzar-se poucas vezes com o actor. As relações do humorista com a terra foram enfraquecendo com o passar dos anos, principalmente «depois de morrer a tia de Lisboa, com quem vinha passar férias a Maceira» durante a adolescência, lamenta Celina Almeida, que acompanhou sempre atentamente a carreira do actor pela televisão. «Foi à tropa, casou e desligou-se de Maceira», refere, confessando ter «pena» que as relações não tenham sido mais próximas. A prima do “entertainer” diz que, já adulto e famoso, Raul Solnado só esteve no concelho por duas vezes: uma há mais de 40 anos, para um espectáculo que apresentou em Fornos de Algodres, e outra recentemente, quando foi homenageado em Maceira, por iniciativa da Câmara. Nestas suas duas passagens pelo concelho, Celina Almeida privou com o também director da Casa do Artista. «Ficou muito satisfeito de nos ver [à família]», lembra.

Aclamado como um dos maiores nomes do humor português, Raul Solnado estreou-se no teatro em 1947, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul. Cinco anos depois tornou-se actor profissional e, em 1953, entrou no teatro de revista com a peça “Vila o Luxo”. Nunca mais parou, contando-se no seu percurso várias filmes, como “Sangue de Toureiro” ou “O Tarzan do Quinto Esquerdo”. Foi em 1961 que interpretou “A Guerra de 1908”, um dos mais conhecidos pelo público, e, já em 1962, gravou com Carlos Cruz a Fialho Gouveia o primeiro episódio de “Zip Zip”. Ainda na década de 60, criou e dirigiu o Teatro Villaret. Em 1977 fez sucesso ao apresentar “A visita da Cornélia”, enquanto que “Petróleo no Beato” ou “Super Silva” foram os grandes sucessos na década de 80. Na sua carreira, destaque ainda para o desempenho de um papel dramático, no filme “A Balada da Praia dos Cães”, de José Fonseca e Costa, e para a participação em novelas, a partir de 1993. Recebeu em 2001 o Prémio Carreira Luís Vaz de Camões e um ano depois foi homenageado com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa. Em 2004 foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entregue pelo Presidente da República.

Raul Solnado tinha ainda três familiares em Maceira

Raul Solnado recordado em Maceira

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