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Radão

Quebra-Cabeças

”O radão é um gás radioactivo de origem natural, que se liberta da crusta terrestre. A exposição dos tecidos biológicos às radiações ionizantes pode acarretar lesões celulares. Os efeitos biológicos são tanto maiores quanto maior for a dose (ou exposição) às radiações ionizantes.

Todos recebemos uma pequena dose de radiações ionizantes devido à radioactividade ambiente (fundo radiológico natural). Esta dose poderá, no entanto, ser muito aumentada em consequência directa das actividades antropogénicas (por exemplo actividades mineiras, industriais, produção de energia), ou no ambiente construído. É o caso da exposição ao Radão no interior dos edifícios.

O radão desintegra-se originando outros elementos, também radioactivos, que podem ser inalados e fixar-se nos brônquios, aumentando assim a probabilidade (risco) de lesões cancerígenas nas vias respiratórias.” (http://www.aspea.org/radao.htm

)

A Guarda está mais exposta ao Radão do que outras regiões do país. Por um lado, a região é rica em materiais radioactivos e, por outro, é sabido que esse gás aparece com frequência associado a formações graníticas. Reunimos por isso todas as condições para o Radão poder ser considerado entre nós um problema de saúde pública. Acrescentemos a isto a informação (ainda a confirmar) de que há na nossa região, e por várias razões, uma especial incidência de doenças do foro oncológico.

A recente descoberta numa escola da Guarda de índices de radioactividade muito superiores ao normal vem, finalmente, lançar o assunto na ordem do dia. E digo “finalmente” porque o problema é conhecido desde há muito. A DECO, por exemplo, há já algum tempo, lançou o alerta e promoveu estudos na nossa região. Tanto quanto sei, concluiu-se que sim, que há concentrações preocupantes de Radão dentro dos nossos edifícios, sobretudo nas caves e rés-do-chão e sobretudo em edifícios construídos, ao menos parcialmente, em granito.

E agora? Vamos fechar a Escola Secundária da Sé e todos os outros edifícios públicos? Vamos evacuar a cidade? A solução parece demasiado radical, até porque haverá formas de diminuir de imediato o risco para a saúde pública. Se é um gás, certamente que ajudará o arejamento de edifícios. Ou não? Ou haverá outros meios? Sabe-se que há recomendações específicas para a construção em áreas de risco como a nossa, com a utilização de determinados materiais em detrimento de outros. Isto, claro, resolve a questão da construção a partir de agora mas nada nos diz quanto ao imenso parque já construído. Está bem? Não está? Não está nada previsto no PDM ou nos regulamentos camarários?

Quanto ao risco em concreto: sabendo-se que a exposição excessiva ao Radão é um factor de risco para as doenças do foro oncológico e, sobretudo, das relacionadas com o sistema respiratório, o que nos dizem então os estudos epidemiológicos levados a cabo na região da Guarda? Ou não existem esses estudos?

A partir daqui, várias coisas podem acontecer. Os responsáveis pela nossa saúde, e incluo aqui a Câmara Municipal, a Protecção Civil e a tutela de todos os organismos públicos sediados entre nós, podem esperar que o assunto deixe de interessar à comunicação social, fazendo uma ou duas declarações tranquilizadoras “para inglês ver”, ou podem começar um trabalho a sério. Para isso precisam de contratar especialistas e encomendar estudos, alargados a toda a região e não apenas à àrea de ciências da Escola Secundária da Sé (já agora, que pensa fazer o IPG, e sobretudo a ESTG, quanto a isto?). Precisam depois de os divulgar e estabelecer programas e estratégias para o futuro, nem que seja necessário demolir alguns ou muitos edifícios que não possam ser recuperados. Mas têm, de imediato, de tranquilizar a população e informá-la sobre os riscos efectivos e a forma de os anular ou reduzir.

Por: António Ferreira

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