Na semana passada foi notícia nacional o pretenso exercício de posturas de cariz racista por parte de elementos da Associação de Pais de uma escola alentejana. Segundo a peça jornalística transmitida, a Associação de Pais ter-se-ia manifestado contra a inclusão de cerca de seis dezenas de crianças de etnia cigana na escola que os seus filhos iriam também frequentar. Alguns elementos daquela etnia, avidamente ouvidos pela comunicação social, vieram logo hastear a bandeira do racismo, bradando que estavam a ser ostracizados por serem ciganos.
Não sei se houve desenvolvimentos neste caso, mas a notícia deixou-me a pensar em quão injusta pode ser a primeira impressão se não tivermos o cuidado de filtrar a informação que, cada vez com maior intensidade, nos entra por olhos e ouvidos.
Bem sei, até por formação académica, que todas as culturas e grupos culturais são igualmente importantes e mais o são se conseguirem preservar os traços culturais que os identificam. Este desiderato só pode, aliás, ser conseguido se uma cultura for suficientemente pujante. Na minha atividade profissional tive já vários alunos de etnia cigana. Que fique claro que as opiniões expressas se baseiam na observação, que pretendo imparcial.
Voltemos então ao princípio: duas partes em conflito. De um lado os pais de alunos do grupo cultural dominante, do outro elementos de uma comunidade menos numerosa que se acha agredida apenas por ser de raça diferente. Nada de surpreendente se pensarmos que situações destas são recorrentes quer no espaço geográfico, quer no temporal. No entanto, a notícia levantou-me algumas questões:
A Associação de Pais tem razões que lhe permitam tomar a posição que tomou?
A comunidade cigana tem dados que sustentem as afirmações que fez? Tem procurado integrar os seus filhos no contexto cultural que escolheu para viver? Respeita as normas desse país?
Sem quaisquer laivos de paternalismo cultural, parece-me que as acusações de racismo são manifestamente um exagero. Parece-me que o que a Associação de Pais pretende com esta tomada de posição é tão só garantir que aos alunos de etnia cigana sejam exigidos os mesmos deveres que aos outros alunos da escola, independentemente de serem brancos, negros, caucasianos…
Ainda no mesmo registo de observador não participante, tenho para mim que, não raro, é a própria comunidade cigana que se marginaliza a si mesma mantendo os seus hábitos culturais muito próprios perante um meio sociocultural diferente. No entanto, essa mesma comunidade aceita desse meio direitos que lhe foram sendo concedidos, contrariamente aos deveres que insiste em não cumprir.
Não sou partidário de uma cultura puramente paternalista relativamente a outras e que lhe pretenda impor os seus valores, que queira integrar à força diferentes formas de viver, que objetive esbater diferenças pelo uso da força legislativa. Tal atitude nunca deu, nem nunca poderá vir a dar bons resultados. Todavia, o que o Estado português está a fazer é um pouco isso quando obriga à frequência da escola até ao final do ensino… obrigatório. Isto por um lado porque, pelo outro, o mesmo Estado que, e muito bem, condena a pedofilia e legisla sobre a idade mínima para o casamento, permite que dentro da comunidade cigana haja casamentos aos doze, treze, catorze anos. Afinal em que ficamos?…
Teremos nós, “gadgés”, o direito de intervir em certos aspetos e noutros não? Será isso integrar? Será assim a tão propalada escola inclusiva?
Tenho para mim que a quem exige direitos deve ser também pedido que cumpra deveres. E isto é o que muitas vezes não acontece…
Por: Norberto Gonçalves