P – A eleição dos novos órgãos sociais, em Março de 2006, marcou o regresso do Aeroclube da Covilhã depois de uma série de anos de inactividade. O que esteve na origem desta “paragem”?
R – O Aeroclube surgiu em 1946 e, a dado momento, chegou a existir na Covilhã uma Escola de Aviação Civil. Contudo, devido a desentendimentos internos, houve de facto uma espécie de “paragem”. Em 1992 foi eleita uma nova direcção, que permaneceu dois mandatos à frente do clube, e o seu trabalho passou sobretudo por tentar sanear as contas. Mas a verdade é que, com o passar dos anos, começou a verificar-se algum cansaço e desinteresse e poucos sócios continuaram, na verdade, a praticar aeromodelismo. Em 2006 juntaram-se uma série de pessoas ligadas à Universidade da Beira Interior (UBI) e às anteriores direcções e elegeram-se os novos órgãos sociais.
P – Com que objectivos?
R – O principal é promover actividades de forma regular. Após a tomada de posse, o primeiro passo foi proceder à “limpeza” dos ficheiros de sócios. Tínhamos 500 associados, mas a maioria não comparecia, nem pagava quotas. Neste momento temos cerca de 100 sócios activos e com o dinheiro das quotizações fomos fazendo pequenos investimentos. Adquirimos equipamento para o aeromodelismo e equipámos o bar, por exemplo. No que à aviação diz respeito, a Covilhã tem três factores únicos a nível nacional: um aeródromo, um Aeroclube e um curso de Engenharia Aeronáutica. Nós queremos que o Aeroclube se assuma como um fórum, um local de reunião para quem gosta desta área nas suas mais diferentes formas. Outro dos objectivos é conseguirmos trazer para a cidade uma escola certificada pelo Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC).
P- A articulação com a UBI é uma prioridade?
R – Naturalmente que sim. Na UBI existem cerca de 150 pessoas ligadas à aviação, entre professores e alunos do Departamento de Aeronáutica. Assim sendo, não faria sentido que, existindo um aeródromo, não se procurasse fomentar um intercâmbio. Aliás, alguns dos membros dos órgãos socais do Aeroclube estão ligados à universidade.
P – Os cursos de asa delta e ultraleves pendulares sempre vão começar este mês?
R – Ainda não há data exacta para o arranque, porque estamos dependentes do número de inscrições. Contudo, julgamos ter, brevemente, o número suficiente de alunos para iniciar as aulas. Como não temos uma escola certificada, optámos por fazer uma parceria com a Escola Delta Clube Estoril. Os cursos terão 120 horas de formação teórica e 20 horas de voo (prática). O de asa delta custará 900 euros e o de ultraleve pendular dois mil euros. Ainda não há preço estabelecido para o curso de planador, mas, pelo que pudemos sondar junto de outros aeroclubes, o preço poderá rondar os três mil euros.
P – Fala-se na possibilidade da Covilhã receber, dentro de quatro anos, a escola certificada pelo INAC. Que diligências estão a ser feitas nesse sentido?
R – O reconhecimento de uma escola certificada exige uma série de procedimentos e a obediência a alguns parâmetros, nomeadamente em termos de instalações. Além de que é preciso ter manuais de formação de voo e instrutores certificados. Estes são alguns dos objectivos a que nos propomos nos próximos quatro anos e, se tudo correr bem, até poderemos atingi-los antes.
P- A Covilhã tem boas condições para a prática deste tipo de modalidades?
R – A Covilhã reúne uma série de condições bastante favoráveis. A orografia e as correntes térmicas fazem com que a cidade seja propícia aos vários tipos de voo. Nos últimos anos estas condições têm estado um tanto ou quanto desaproveitadas e é precisamente isso que estamos a tentar inverter. Queremos reunir um conjunto de pessoas, formar localmente novos pilotos e promover actividades mais regulares. De resto, admito que a actividade de planadores poderá ser uma mais-valia para o turismo da região, na medida em que atrai visitantes. Já recebemos, inclusivamente, solicitações de vários operadores turísticos para a realização de baptismos de voo.
P – As actividades relacionadas com a aviação ainda são, de certo modo, encaradas como de elite, até porque são dispendiosas…
R – Trata-se, de facto, de actividades um pouco caras, mas isso não quer dizer, necessariamente, que sejam de elite. Julgo que essa ideia existe por muitos dos praticantes estarem ligados a profissões técnicas. Contudo, admito que o preço por voo seja relativamente caro.
P – Há muitos praticante na região?
R – Penso que sim, mas, acima de tudo, achamos que existem potenciais praticantes. Já recebemos muitas manifestações de interesse em frequentar os cursos que vamos promover. No entanto, sem actividades não podemos contar com o “feedback” das pessoas.