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Quem fica?

Editorial

1. Quando em dezembro de 2010 a Delphi encerrou, o futuro da Guarda, como cidade, ficou mais sombrio. Anunciaram-se então as mais diversas exigências ao poder central para investir na região e, assim, minorar as dificuldades dos trabalhadores que iam engrossando as filas de desempregados. Nada foi feito.

O últimos trabalhadores a serem mandados para casa, 321, foram mesmo à Câmara da Guarda solicitar “ajuda” ao presidente do município, convictos que o autarca poderia fazer alguma coisa pela Guarda. Não podia, e não fez. Das suas múltiplas viagens pelo mundo nunca resultou qualquer vantagem para o concelho e muito menos para os trabalhadores da cidade. Um autarca não tem como resolver, diretamente, este tipo de problemas. Mas pode criar condições para outras formas de promoção do trabalho e do desenvolvimento económico e social. Nem isso…

Os trabalhadores ficaram descansados e, muitos deles esperaram confiantes que alguma empresa apareceria para os contratar. Passaram dois anos e nada… se o país anda mal a Guarda está muito pior, pelo que, emprego, na cidade é coisa que escasseia. Não há empresas novas, nem investidores, nem trabalho, a economia há muito que atrofiou. Mas se para quem tem emprego, para quem trabalha, a situação atual pode “parecer” má, para quem vive angustiado sem trabalho ela é muitíssimo pior. E para os últimos trabalhadores despedidos da Delphi ficou agora ainda mais difícil: acabou-se o subsídio de desemprego. Resta-lhes partir.

A emigração volta a ser o destino de todos os que por cá não encontram alternativa. Como outrora, os portugueses partem em levas cada vez maiores à procura de soluções, de trabalho, de rendimento, de futuro. De encontrar o que porque cá não existe, fugindo à fome e à miséria. Já não partem a salto como no tempo da ditadura, mas partem desesperados, sem esperança, sem sonhos e com o desejo de ganharem uma nova vida para um dia regressarem.

2. Esta semana a neve regressou à Guarda.

Desta vez com um nevão a sério (sim, porque nos últimos anos a Guarda só tem visto neve de passagem). E com um fenómeno raro por cá: uma tempestade de neve, terça-feira à noite, cujos relâmpagos clarearam os céus e deram beleza extraordinário ao manto branco (e o trovejar impressionante em alguns locais).

Naturalmente que para quem trabalha não é fácil o convívio com a neve, especialmente se considerarmos que os anunciados equipamentos de limpeza de neve continuam por adquirir, ou seja, não houve tantas complicações e atritos porque, por antecipação, houve o encerramento de escolas e de outras situações de risco, mas falta o investimento em meios necessário para fazer frente a estas situações anómalas e que bloqueiam a cidade.

Luis Baptista-Martins

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