2009 não traz promessas, só ameaças. Depois de anos de esforços descomunais para reduzir o défice orçamental, a situação da economia mostra-se tão má que o Estado só já pensa em gastar o dinheiro que as empresas e os bancos não têm, de forma a obter o efeito multiplicador do investimento que já aqui mencionei. O problema é que os investimentos previstos, no TGV, no novo aeroporto e em mais auto-estradas irão mexer em muito pouco do nosso tecido económico e vão servir para, mais uma vez, a exportação de postos de trabalho.
Somos um dos povos da União com maior percentagem de proprietários das casas em que vivemos. Também somos, por isso, dos mais endividados. As recentes descidas das taxas de juros, a que José Sócrates é totalmente alheio (e escusava de nos envergonhar a todos quando veio reclamar o mérito na sua mensagem de Natal) foram um merecido e necessário alívio. O problema é que a Caixa Geral de Depósitos, a mais sólida e reputada instituição financeira nacional, nem com o aval do Estado consegue já dinheiro no mercado internacional. E o que consegue vem com um spread incomportável, o que se irá reflectir mais tarde ou mais cedo nos créditos à habitação, assim se esbatendo os efeitos da descida das taxas de juros.
É verdade que o petróleo tem baixado e está hoje a um terço dos valores que chegou a atingir, mas não há que embandeirar em arco: essa descida deveu-se sobretudo à diminuição generalizada da actividade económica, por isso pela diminuição da procura, e não à descoberta de novas jazidas, por isso pelo aumento da oferta. De resto, todos sabemos que é urgente diminuir a dependência o petróleo e por muitas e boas razões, começando pela urgência em parar com o aquecimento global e continuando com a chantagem que está a ser exercida sobre o Ocidente pelas “Petro-Ditaduras”. Imaginemos agora que alguma má notícia vem afectar o preço do petróleo, como por exemplo um ataque israelita ao Irão ou rumores sobre o esgotamento de algum importante campo petrolífero: como iríamos suportar de novo o barril a 150 dólares?
Os desafios são enormes e, infelizmente, não parece que tenhamos políticos à altura deles. 2009 irá mostrar, outra vez, Santana Lopes a candidatar-se a Lisboa, Alberto João Jardim a exigir para luxos na Madeira o dinheiro que não temos para o essencial aqui e, por todo o país, pequenos e médios inúteis, ignorantes e corruptos a perfilarem-se para mais um mandato, ou para o primeiro. Mas cheira-me que desta vez vão ter dificuldades em angariar dinheiro para a campanha.
Por: António Ferreira