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Quarenta e três anos depois…

Agora Digo Eu

43 anos depois a Liberdade, a Fraternidade, a Igualdade continuam a ser um punhado de palavras, ideologicamente bonitas, de sonhos dificilmente concretizáveis.

Abril prometeu e cumpriu: Descolonizou, Desenvolveu, Democratizou. Deu liberdade de dizer, de ouvir, de ser. Atingiu-se a expressão livre de sentimentos ao cortarem-se as amarras da opressão, do obscurantismo, da estupidez da ditadura, percebendo-se que ainda é possível tentar a igualdade de oportunidades.

Festejar Abril é estar atento àquilo que nos rodeia. Aos permanentes ataques à Liberdade. Não podemos ficar serenos e indiferentes ao que se passa por esse mundo fora, acomodados a um prazer histórico de considerações, recordações e datas. Devemos, isso sim, continuar a correr riscos, inovar e ter o bom senso de saber assumir utopias, percebendo que este espaço que Abril nos trouxe está repleto de poesia, de paixão, de emoção, de sonho.

43 anos depois todos (ou quase) iremos comemorar. Uns por necessidade de afirmação ou defesa do lugar que ocupam, outros porque (ainda) acreditam no cravo vermelho, no cravo da revolução, cravo esse que continua a dar vida, cor, pensamento, motivação e relevo ao que de mais belo se encontra em cada um de nós, deixando que jamais nos possamos render à evidência da sociedade madrasta que cada vez mais mistura riqueza com pobreza, ódio com compaixão, guerra com paz, inteligência com calculismo. Dois conceitos estão permanentemente em cima da mesa. De um lado o idealismo que avança sem atender à parte material da vida com olhos postos em grandes teorias, hirto e dogmático, enquanto o outro, saltando por cima disso, declara tudo utópico, entra na barataria materialista, aplicando, apenas e tão só, os frios cifrões do capitalismo repugnante e selvagem.

Estamos a caminhar a passos largos para as eleições de outubro. E se Abril fez uns bonitos 43 anos não posso esquecer, hoje e aqui, os 40 anos do poder local democrático, mesmo percebendo que ainda existem critérios manhosos, político-eleitorais que determinam que se prometa antes, se prepare muito depois e se execute no timing considerado oportuno.

Abril é o mês das flores. Dos cravos. Da esperança. Abril é meu, é seu, é de todos nós. Abril não é nem pode ser de mais ninguém. Aqui somos todos protagonistas. Todos fomos capazes, ao longo de 43 anos, pensarmos esta terra, hoje nossa. Hoje Livre. De escrevermos a História.

Afirmou Agostinho da Silva: «A maior de todas as políticas foi sempre feita pelo coletivo quando cada um dos que o compõem se entrega sincera e inteiramente ao que é, embora não se importe que tomem nome personagens que os textos ou as artes imortalizaram e fiquem anónimos os que na realidade lançaram mãos à obra e puseram de pé a construção».

Na “Praça da Canção”, Alegre define assim o país de Abril:

«País de Abril é sítio de Poema. País de Abril fica no ventre das manhãs. País de Abril é muito mais que geografia. Por isso o poema aprende a voz dos ventos, ficando à distância de um só gesto onde todos os ventos dizem que basta apenas estender a mão».

Por: Albino Bárbara

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