A publicação do ranking das escolas secundárias trouxe de volta a discussão em torno da qualidade do ensino nos sistemas público e privado. E, mais uma vez, as conclusões foram precipitadas.
Defender a primazia do ensino privado por serem privadas as dez primeiras escolas do ranking é um erro. Para validar minimamente este estudo, os alunos que ingressam no 7º ano deveriam ter sido distribuídos aleatoriamente pelos sistemas público e privado, analisando-se posteriormente os resultados obtidos nos cinco anos lectivos seguintes. Não foi o que aconteceu neste estudo, pois sabe-se que as escolas privadas seleccionam os seus alunos nas camadas sociais mais favorecidas (são os que podem pagar), enquanto a escola pública recebe alunos oriundos de todas as classes. Esta distribuição condicionada por factores económicos introduziu desde logo uma “variável contaminadora” no estudo.
Um aluno que se levanta às seis da manhã para apanhar o autocarro e volta para casa já de noite não pode render o mesmo que um outro que cumpre o horário normal. Tal como um aluno obrigado a trabalhar após as aulas não pode render o mesmo que o colega com tempo para estudar e explicações a várias disciplinas. Estes são apenas dois exemplos que condicionam os resultados deste estudo e exigem precaução na hora de fazer comparações.
É evidente que a qualidade de ensino – professores e escola – são importantes, mas sem alunos com boas condições económicas e sociais dificilmente se conseguirão obter boas médias. Não quer dizer que, pontualmente, não se atinjam bons resultados individuais.
Aliás, o estudo demonstra que os alunos com a média mais alta até frequentam a escola pública. Mas isto deve-se ao facto da escola pública também ser frequentada por alunos cujos pais podem facilitar boas condições de estudo e porque, apesar das dificuldades, há alunos sem condições que à custa de muitos sacrifícios conseguem bons resultados. Mas como o ranking é elaborado com médias, estes bons resultados acabam por ser engolidos pelas notas baixas dos alunos que frequentam o ensino público apenas para concluir o 12º, algo que não acontece nas privadas onde o objectivo é quase sempre o ingresso no Ensino Superior.
Concluindo: o ranking das escolas é interessante, sim senhor, mas devem ser evitadas as conclusões precipitadas. Queremos saber quais são as escolas que prestam bons e maus serviços, mas é preciso encontrar formas de obter resultados mais fiáveis.
Só!
Ouvi-o em vários locais da cidade, de diferentes pessoas, mas sempre com grande satisfação:
– Epá, afinal a luz só vai aumentar seis por cento!
Pois é, afinal a electricidade “só” vai aumentar três vezes mais do que os salários. Como este aumento tem repercussão nos restantes bens de consumo, suponho que o nível de vida “só” irá baixar mais um bocadinho.
O aumento da electricidade é um bom exemplo de como fazer política com base na gestão de expectativas: A ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) começou por dizer que seria necessário um aumento de 22,7 por cento, mas propôs “apenas” 15,7. A comunicação social chamou a atenção para o aumento disparatado e o Governo saiu em defesa dos contribuintes, conseguindo um aumento de “apenas” seis por cento. E pronto, o contribuinte ficou todo satisfeito com a benesse governamental.
Por: João Canavilhas