O assunto Delphi motivou, na passada quinta-feira, uma acesa troca de acusações na Assembleia Municipal (AM) da Guarda. Tudo porque o Bloco de Esquerda apresentou uma moção de apoio aos trabalhadores da fábrica de cablagens, onde está previsto o despedimento de 540 pessoas até ao final do ano. O assunto parecia consensual, mas o PS chumbou o documento.
O texto exigia que «se abra o jogo aos operários e à sociedade da Guarda», pois, actualmente, a «falta de informação por parte do Governo, da Governadora Civil e de outras entidades públicas da cidade está a causar grande perturbação e instabilidade na empresa». E solicitava a intervenção do presidente da Câmara, cujas acções e resultados deveriam ser divulgados publicamente. Já ao ministro da Economia era pedido que informasse «sobre as medidas que estão a ser desenvolvidas para procurar impedir mais uma vaga de despedimentos no interior do país e qual o plano do Governo para apoiar os trabalhadores». Até aqui, nada de mais, mas assim não entenderam os socialistas, em maioria na AM, enquanto os presidentes de Junta se abstiveram. A justificação surgiu numa declaração de voto: «Esta proposta é um aproveitamento político lamentável do Bloco e o PS não pode consentir isso», afirmou Pedro Pires, que disse confiar «plenamente» no empenho do presidente da Câmara nesta matéria.
Uma explicação que, para o PSD – que votou favoravelmente –, mais não significou que «os socialistas não querem ficar com o ónus da culpa do encerramento da fábrica. O PS divorciou-se, mais uma vez, da Guarda com esta posição», criticou João Prata. Por sua vez, o presidente da Câmara, interpelado por José Ambrósio, do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas (STIMM) – presente no público, garantiu que a área onde está instalada a Delphi não terá outras funções que não sejam industriais. «O uso previsto no Plano Director Municipal é e continuará a ser para essa finalidade e não outra», afirmou. De resto, Joaquim Valente adiantou estar a «fazer tudo» o que pode, mas avisou que não está disposto a ir «para a rua fazer alarido». O edil também explicou o polémico acesso ao estacionamento do Vivaci, dizendo que «desde a primeira hora que os pareceres dos técnicos foram no sentido do projecto se fazer com a rampa no largo».
Uma posição sustentada em slides e no processo, pois o executivo decidiu, «por unanimidade, em função de pareceres técnicos». Revelou também que o promotor vai assumir a requalificação das áreas públicas envolventes ao centro comercial, num valor de 600 mil euros, o que «não estava previsto inicialmente». Além de que a Câmara vai ter direito a uma renda anual de 36 mil euros durante 75 anos pela servidão do domínio público. «Este rendimento é igual ao gerado com a instalação de duas torres eólicas no município», acrescentou. Antes, o deputado social-democrata Crespo de Carvalho tinha considerado o Vivaci uma «aberração urbanística que parece não cumprir o PDM», defendendo a sua demolição. O Guarda Mall também não escapou às críticas, com Aires Diniz (CDU) a afirmar que os comerciantes do mercado municipal «não foram respeitados».
Já Amâncio Antunes, eleito nas listas do PS, fez aprovar, por maioria, uma moção de repúdio à intenção da EDP fazer recair sobre os clientes cumpridores o pagamento das dívidas incobráveis. «Por que é que só repartem os prejuízos pelos consumidores e distribuem os lucros pelos accionistas?», interrogou o deputado. No período da ordem do dia, a maioria socialista, apoiada nos presidentes de Junta, voltou a impor-se, fazendo aprovar a primeira revisão às Grandes Opções do Plano e do Orçamento do município e o relatório da sociedade Hotel Turismo.
Luis Martins