O Parque Urbano do Rio Diz, na Guarda, e um cão chamado Aquiles estão na origem de uma empresa de dispositivos de localização que foi escolhida para integrar a maior incubadora de hardware do mundo, em São Francisco, na Califórnia (Estados Unidos). A Findster Technologies, fundada por David Barroso e Vergílio Ferro Bento, antigos alunos da Secundária Afonso de Albuquerque, é uma das dez companhias mundiais convidadas para trabalhar na HAX Boost nas próximas seis semanas com o objetivo de entrar no mercado norte-americano.
Mas tudo começou bem longe e perante um problema bem real: a necessidade de criar um mecanismo que permitisse localizar o cão Aquiles sempre que fugia durante os passeios de domingo que os dois guardenses faziam no parque urbano da cidade. Formados em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações pela Universidade de Aveiro (David com mestrado e Vergílio com doutoramento), os jovens decidiram inovar com uma solução mais barata do que as existentes no mercado. «Criámos um dispositivo eletrónico que nos permitisse localizar seres vivos em situações de localização de proximidade. Isto porque muitas das vezes que o Aquiles fugia, na verdade ele estava bastante perto de nós, nunca se distanciava muito», recorda David Barroso. A solução encontrada pela dupla de empreendedores foi um sistema GPS com base num sistema de rádio frequência proprietário com alcance médio de um quilómetro de distância e sem custos mensais associados.
Estava dado o pontapé de saída para a criação do Findster, mais tarde desenvolvido com outros colegas de faculdade, Márcio Colunas e Paulo Fonseca. O trabalho resultou na criação da empresa Findster Technologies, que, no ano passado, numa primeira campanha de “crowdfunding” conseguiu angariar 120 mil dólares (cerca de 110 mil euros) vindos de 52 países diferentes. O projeto amadureceu e está agora a ser desenvolvido para o mercado norte-americano. «A ida para São Francisco prende-se com o facto de pretendermos criar um produto que represente uma democratização dos sistemas de localização e também dos canais de venda do produto», afirma David Barroso. O CEO da empresa adianta que a campanha de “crowdfunding” revelou que 70 por cento dos clientes da Findster têm origem nos EUA, logo, esse tinha que ser o mercado-alvo.
«Além disso, os Estados Unidos são o epicentro do desenvolvimento tecnológico a nível mundial, o que, juntamente com os nossos clientes, fez com que tivéssemos esta vontade de expandir operações a nível internacional», acrescenta o empresário. E para dar esse passo, a HAX Boost, a maior aceleradora de hardware a nível mundial, é o parceiro ideal porque se dedica à otimização da cadeia de produção de produtos eletrónicos e à criação e melhoria da sua cadeia de venda. «Dado o potencial do produto e a criação de valor com um investimento tão reduzido, fomos convidados a participar neste programa para iniciar a venda em massa do produto nos EUA», refere David Barroso, segundo o qual a Findster vai aproveitar esta experiência americana para criar uma nova secção de desenvolvimento de negócio. No entanto, a empresa, que está sediada no Porto, quer manter as suas operações de engenharia em Portugal, «dada a excelência dos nossos engenheiros e da nossa equipa».
Sistema é o primeiro a nível mundial sem mensalidades
Este mês a Findster vai começar a comercializar dois pequenos dispositivos para crianças e animais domésticos que permitem aos pais e donos saber onde estão os filhos e os animais de estimação.
«Permitindo a monitorização em tempo real, a tecnologia permite atuar de forma preventiva em casos de desaparecimento, criando cercas virtuais de segurança que alertam o utilizador sempre que o perímetro é ultrapassado», adianta a empresa, cujo sistema é o primeiro a nível mundial que não exige o pagamento de mensalidades. Entretanto, o processo de incubação na HAX Boost já começou vai durar seis semanas, durante s quais os quadros da empresa vão frequentar formações com especialistas na área de retalho, marketing digital e logística. Segundo a empresa, «a seleção da Findster representa o reconhecimento pela criação de uma tecnologia diferenciada, que vem estabelecer um novo paradigma no segmento dos dispositivos de localização, permitindo a sua democratização».
Luis Martins