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Projecto de Pêro Martins em quarto lugar

Ideia com meio século para Figueira de Castelo Rodrigo tem lugar de destaque na análise dos seus potenciais impactos

É o novo fôlego da famigerada barragem de Pêro Martins. Depois da EDP ter anunciado em Abril passado estar a equacionar um novo empreendimento hidroeléctrico para o Côa, as conclusões do estudo da Universidade de Coimbra vêm dar novo alento aos responsáveis autárquicos de Figueira de Castelo Rodrigo, que têm defendido acerrimamente a concretização deste projecto em lista de espera há mais de meio século. Desta vez, os investigadores dão uma mãozinha e consideram Pêro Martins como o quarto aproveitamento hidroeléctrico mais vantajoso da região Centro, relegando a opção da Sra. de Monforte, também neste município, para décimo lugar.

A ideia de constituir uma grande reserva de água na bacia do Côa foi definitivamente projectada em 1986, mas acabou na gaveta dez anos depois com o fim da barragem de Foz Côa. Na altura, os estudos da EDP previam a construção de um conjunto de cinco aproveitamentos: Pêro Martins, Senhora de Monforte – onde actualmente existe uma mini-hídirca -, ambas equipadas, e três de captação de água, funcionando em cascata a partir de Atalaia, no concelho de Pinhel. Tudo projectos que integram a lista de prioridades (ver texto ao lado) e que continuam no horizonte da EDP, mas a longo prazo. Em 2000, a opção Pêro Martins voltou à actualidade após os problemas ambientais do Sabor, relançando o debate sobre a necessidade de uma barragem para a região como forma de reconciliar as populações com as gravuras do vale do Côa, frequentemente acusadas de não contribuírem para o desenvolvimento daquela área. É que o projecto do Côa, elaborado nos anos 80, não teve em conta a condicionante Parque Arqueológico, classificado como Património da Humanidade, e que agora se interpõe entre a zona de Pêro Martins e o rio Douro, a norte de Cidadelhe, já no concelho de Pinhel. O que implica não ser possível construir um contra-embalse na foz do Côa e obriga a que qualquer barragem que venha a ser pensada como alternativa ao Sabor necessite sempre de obras subterrâneas para que o lançamento da água possa gerar mais energia e cumprir a sua função estratégica, que é fornecer água à cascata do Douro em épocas de maior necessidade.

Esse é, de resto, o grande argumento para a construção de uma barragem no Côa, onde a criação de uma grande reserva de água é vista como um desígnio nacional, tanto mais que o afluente do Douro tem a vantagem de ser inteiramente português. Contudo, este investimento é visto, pela empresa de Rede Eléctrica Nacional, como um investimento «muito menos interessante» em relação à futura barragem do Sabor. É que Pêro Martins só permite um armazenamento de 400 milhões de metros cúbicos de água, somando-se a esta contrariedade o facto da barragem só ficar concluída, na melhor das hipóteses, em 2015, quando Portugal precisa de cumprir a directiva da União Europeia que dá até 2010 para que 39 por cento da sua produção de energia eléctrica seja de origem renovável. Entretanto, Aníbal Traça de Almeida, um dos autores do estudo, citado pelo “Público”, recorda que Portugal aproveita apenas 58 por cento dos seus recursos hídricos, quando importa 85 por cento da energia que consome e avisa que, sem barragens, «o país continuará a ter cheias no Inverno e estios no Verão, bem como áreas extensas subaproveitadas do ponto de vista agrícola». O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra estima que os 14 projectos analisados custarão cerca de 1,5 biliões de euros, mas garante que este é um dos investimentos «mais sensatos».

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