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Produção de uvas não escapa aos efeitos da seca

Quebra nas adegas da região chega a atingir os 30 por cento, mas a qualidade dos vinhos deve ser semelhante à de 2004

Menos vinho, mas a mesma boa qualidade. A prolongada seca que afecta o país há vários meses está a ter implicações em vários sectores, sendo o vinho um deles. Na maior parte das adegas da região, as previsões apontam para uma quebra acentuada na produção de uvas deste ano, chegando no caso da Beira Serra, em Vila Franca das Naves, aos 30 por cento. No entanto, apesar da diminuição na quantidade de uvas, a generalidade das cooperativas da região acredita que a qualidade dos vinhos será idêntica à de 2004.

«À semelhança do ano passado, em que já fomos afectados pela seca, estamos a contar com uma redução da produção na ordem dos 30 por cento. É um mal geral», adianta Artur Figueiredo, responsável de produção da Adega Cooperativa Beira Serra, em Vila Franca das Naves (Trancoso). Já em termos de qualidade é «menos afectante», não estando perspectivada uma «quebra tão significativa», uma vez que haverá uma perca em certas zonas, mas dá para «contrabalançar» noutras, indica. A época de colheita deverá começar dia 20, prolongando-se por três ou quatro semanas. No concelho vizinho de Pinhel, o cenário parece não ser muito melhor, estimando-se que a quebra de uvas se situe «entre os 20 e os 25 por cento», mas «tudo depende do São Pedro», realça António Morgado, presidente da Adega Cooperativa local. É que «se ainda chover, a situação poderá melhorar um pouco», considera, recordando que em 2004 a instituição recebeu 16 milhões de quilos de uvas. A campanha começa dia 15, prolongando-se durante um mês. No que toca à qualidade, o responsável mostra-se um pouco céptico: «Não acredito que o vinho seja de tão boa qualidade como no ano passado devido à seca», admite.

Também na Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo se perspectiva uma diminuição de «mais de 20 por cento» na produção de uvas deste ano (11 milhões em 2004). «Pelo trabalho que temos feito no campo, sabemos que a uva não desenvolveu convenientemente», até porque em alguns casos «amadureceu rápido demais», não atingindo o tamanho indicado, explica Ana Marcos, técnica de produção integrada da cooperativa. A sub-região vitivinícola de Castelo Rodrigo apresenta duas zonas «bastante distintas», uma quente e outra mais fria (Figueira, Vermiosa ou Reigada). E é precisamente nesta zona mais fria que a quebra de uvas se «deverá notar mais», já que também é aquela onde a produção é maior. A época de colheita também deverá começar dia 15, «10 dias mais cedo» que no ano passado, tudo por causa da redução na produção de uvas, devendo prolongar-se por um período superior a um mês.

«Uvas não tiveram a qualidade suficiente de seiva para se desenvolverem»

A Mêda não é excepção a este cenário de decréscimo de uvas, daí que a Adega Cooperativa local esteja a contar com uma redução de «cerca de 20 por cento», isto porque «não está previsto que chova nos próximos tempos», refere Ricardo Jorge, chefe de serviços da instituição. Quanto à qualidade deve manter-se boa «como no ano passado», quando a cooperativa medense recebeu cerca de 2,6 milhões de quilos. À Adega da Mêda as uvas começam a chegar no dia 16. No caso de Vila Nova de Foz Côa, que já começou a receber as uvas durante o dia de ontem, deverá haver uma redução de «15 a 20 por cento», indica o enólogo da Cooperativa, Fernando Azevedo, para quem a qualidade dos vinhos ainda é uma incógnita. É que, se por um lado, «as uvas não tiveram a qualidade suficiente de seiva para se desenvolverem», por outro, há uma «muito maior concentração de uvas, o que poderá levar a um maior teor alcoólico», explica. Deste modo, «independentemente da quantidade, acreditamos que a qualidade não será assim tão boa», reforça. A época de vindimas deverá prolongar-se por 40 dias, sendo que em 2004 foram produzidas 3.500 pipas de vinho do Porto e 5.000 de vinho de mesa. Por último, na Covilhã as previsões parecem não ser tão negativas. «A seca está afectar a produção e, por isso, estamos a contar com cerca de dez por cento a menos de uvas em relação ao ano passado» (4,2 milhões de quilos em 2004), indica Helena Moreira, responsável de qualidade da Adega Cooperativa da “cidade-neve”. Contudo, apesar de haver menos uvas, a qualidade dos vinhos deverá ser «muito idêntica» à do ano transacto. A época de colheita na Covilhã deverá começar em meados deste mês, prolongando-se por três semanas.

Ricardo Cordeiro

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