Arquivo

Primeiros arguidos de falsificação de vinho refutam acusação

Julgamento prossegue segunda-feira no Tribunal da Mêda

Os dois primeiros arguidos do julgamento de um caso de falsificação de vinho a serem ouvidos no Tribunal da Mêda afirmaram-se, segunda-feira, inocentes e culparam um empresário espanhol que não é arguido no processo. Rogério Martins e António Durives Pereira, gerentes da J.A. Lopes, empresa que a partir de 1998 se dedicou à compra e comércio de vinhos e mostos que adquiria em Espanha na empresa Venta de La Campana, na região da Mancha, disseram não serem armazenistas e adiantaram que apenas serviam de intermediários entre a venda do vinho e o consumidor, designadamente com a SUBVIDOURO, uma destilaria constituída por adegas cooperativas da região do Douro, para produção de aguardente destinada ao Vinho do Porto.

Segundo explicaram, um contrato de fornecimento à SUBVIDOURO de 20 milhões de litros de vinho branco e quatro milhões de litros de aguardente por ano levou a empresa que geriam a procurar instalações onde seria fermentado mosto concentrado trazido de Espanha, porque, explicaram, «era mais barato – um camião de mosto equivaleria a cinco camiões de vinho trazido da Venta de la Campana». Para isso, os arguidos contactaram o presidente da Adega Cooperativa de Foz Côa, Abílio Pereira, conhecido de Rogério Martins, que lhe indicou a presidente da AGROMEDA, Ana Saraiva, que alegadamente poderia ajudá-los na pretensão de aluguer de instalações destinadas à fermentação do mosto. Através de contrato escrito com a AGROMEDA, Ana Saraiva terá cedido à J.A. Lopes as instalações, as ânforas, tanques e equipamentos para fermentação, não interferindo nesta operação nem no transporte do vinho, o que ficava sob o controlo do espanhol Eugénio Martinez, da Venta de La Campana, afirmaram os arguidos. Rogério Martins e António Durives Pereira explicaram que o contrato de fornecimento de vinho e aguardente à SUBVIDOURO iria render à J.A. Lopes «30 a 40 mil contos de lucro». E ilibaram no seu depoimento a participação neste processo do presidente da Adega Cooperativa de Foz Côa, Abílio Pereira, do enólogo Fernando Azevedo, que prestava assistência à adega da AGROMEDA, assim como o engenheiro técnico-agrário, Nuno Morgado, e a presidente da cooperativa da Mêda, Ana Saraiva, todos arguidos neste caso.

«Abílio Pereira apenas foi procurado para nos indicar se conhecia instalações para fermentarmos o mosto, enquanto Fernando Azevedo e Nuno Morgado prestavam já assistência à AGROMEDA», referiram. Ambos confessaram também não «entender nada de vinhos» e explicaram que a sua empresa se dedicava até 1998 à reparação naval e comércio de pescado. Sobre o aparecimento de vinho falsificado na Adega Cooperativa do Moinho de Vento, feito a partir de processos não vitivinícolas, afirmaram «não saber como isso aconteceu». Adiantaram, por outro lado, que um lote de um milhão de litros que já tinham fornecido à SUBVIDOURO foi aprovado por esta destilaria, onde lhes terão dito que «apesar do vinho trazido de Espanha não ser de boa qualidade, daria boa aguardente». Relativamente aos camiões-cisterna apreendidos perto de Muxagata (Vila Nova de Foz Côa) pela Brigada de Trânsito da GNR em 1999, quando transportavam sem guias cerca 45 mil litros de vinho alegadamente falsificado e proveniente da Adega Cooperativa do Moinho de Vento, os arguidos não souberam explicar o seu movimento, admitindo mesmo que Eugénio Martinez fosse o responsável do transporte com destino a Espanha. Também não souberam explicar como surgiu o vinho produzido a partir de produtos químicos que foi apreendido na adega da AGROMEDA, atribuindo eventuais responsabilidades ao empresário espanhol que, neste processo, não consta como arguido. António Durives disse mesmo que os 45 mil litros de vinho alegadamente falsificado apreendidos poderão ter sido desviados da Adega Cooperativa do Moinho de Vento para Espanha pelo empresário espanhol. O julgamento de um caso de falsificação de 1,5 milhões de litros de vinho prossegue segunda-feira. Todos os arguidos estão acusados da prática de um «crime continuado de falsificação de géneros alimentícios», alegadamente realizado na Adega do Moinho de Vento.

Sobre o autor

Leave a Reply