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Director clínico exige «mais trabalho e menos horas extraordinárias»

José Cunha não se demite e diz que não pode dar protecção a «alguma mediania tecnológica» nalguns serviços

O director clínico do Hospital Sousa Martins recusa demitir-se, mas diz-se farto de «levar constantemente tiros nas costas» dos colegas e dos responsáveis políticos da cidade. José Cunha, cuja demissão foi sugerida na semana passada por Maria do Carmo Borges por causa da polémica da maternidade, garante que ele também defende a continuidade daquele serviço na Guarda, mas ressalva que têm que ser os seus profissionais a «empenhar-se mais e a aceitarem o desafio da qualidade através da competência técnica e da humanidade do trato». E revela ter abordado, em tempos, os obstetras sobre a eventualidade de receberem no Sousa Martins parturientes da Covilhã, mas que estes lhe responderam que «já lhes chegavam as que têm».

José Cunha prevê que só venha a existir uma maternidade na Beira Interior a médio prazo, pelo que o serviço tem de «demonstrar vontade» de se desenvolver na Guarda. «Custa-me ouvir dizer que a maternidade funciona como há 20 anos atrás, mas acredito que é possível contrariar essa ideia que muita gente tem do serviço se os obstetras derem um pouco mais do que já estão a dar», sublinha. Por isso, o fecho ou não da maternidade do Sousa Martins reside nos próprios profissionais, avisa o director clínico, que defende que os obstetras dos três hospitais da região devem encontrar-se e decidir «qual o melhor caminho». Nesse sentido, o médico considera que o hospital da Guarda é «rigorosamente igual» ao da Covilhã em termos de competência, mas adianta que não pode dar protecção a «alguma mediania tecnológica» nalguns serviços, onde é exigido «mais trabalho e dedicação» aos seus profissionais. Sem querer concretizar, José Cunha refere que «a maioria está a responder bem a esse novo desafio e com excelentes resultados na produtividade e qualidade», mas sempre vai dizendo que alguns especialistas têm de aumentar a sua dedicação: «Há um nível excessivo de horas extraordinárias, mas que não se repercute no número de actos praticados», constata.

E enquanto essa situação continuar «nenhum dos três hospitais terá capacidade para desenvolver as suas valências, particularmente nalguns serviços», admite, sublinhando

que a Guarda será «sempre perdedora» num cenário concorrencial com a Covilhã, onde há um hospital novo, facilidade de contratação e «um ambiente social positivista». Pelo contrário, a Guarda está «obcecada pelos males que tem, está triste e deprimida. E a imagem transmitida é meio caminho andado para ganhar ou perder em situação de concorrência», defende, não sem antes recordar que serão os utentes quem seleccionará as unidades a desenvolver ou a encerrar. José Cunha confessa que no Sousa Martins luta contra o «oportunismo demagógico» de alguns profissionais e que o seu desafio na função que ocupa consiste em fazer «a aproximação progressiva e suave» a um gestão empresarial. «Se o conseguir estarei satisfeito, mas acho que já há diferenças na qualidade e produtividade assistencial em relação há dois anos atrás», admite. De resto, confirma que o seu relacionamento no seio do Conselho de Administração está reduzido ao «essencial», mas diz sentir «grande apoio e sintonia» dos médicos, com excepção de «um ou outro» que discorda da sua actuação por causa da «fuga à exigência de qualidade criada». E revela que a actuação do director clínico tem um «óbice», que é o de «não poder obrigar» um médico a desempenhar duas tarefas complementares.

Luis Martins

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