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Primeiro vinho Kosher português já está disponível

Único em toda a Península Ibérica, “Terras de Belmonte” é uma “porta” para novos produtos comerciais e promoção turística da região

Foi essencialmente um «acto de justiça» aquele a que centenas de pessoas assistiram no último domingo na Adega Cooperativa da Covilhã na apresentação do primeiro vinho de origem judaica a ser produzido em Portugal. 500 anos após a expulsão dos judeus pela Inquisição, o vinho Kosher “Terras de Belmonte” vem «conciliar» os descendentes dos judeus que saíram de Portugal com os que ficaram. Pelo menos assim pensam todos aqueles que assistiram à cerimónia, bem como o empresário Rogério Mendes, consultor e agente da adega para o mercado norte-americano, sul-africano e Canadá. «Olho para este vinho como um símbolo da ligação entre nós e vós», disse durante o seu discurso, recordando que os 13 primeiros judeus a chegarem aos Estados Unidos da América em 1645 eram de origem portuguesa.

E é graças ao apoio de uma das maiores distribuidoras mundiais de vinho Kosher, a Abarbanel Heritage, que cerca de onze mil garrafas de “Terras de Belmonte” estejam «praticamente vendidas» na América para serem consumidas durante o Pesach, (equivalente à Páscoa dos cristãos). Mas para apresentar o primeiro vinho Kosher português na comemoração dos 50 anos da cooperativa covilhanense, que produziu 60 mil litros nesta primeira fase, foram precisos muitos meses de um trabalho «muito difícil e de muitas horas», conta Elisha Salas, rabino da comunidade judaica de Belmonte. É que o processo de produção deste vinho é muito complicado: «Ninguém pode tocar no vinho, nos ingredientes ou materiais a usar, a não ser os indivíduos judeus», explica, acrescentando que todo o processo foi acompanhado apenas por si e pelo representante da Orthodox Union, Sholomo Sebbah. Já as cubas, mangueiras e restantes utensílios utilizados na feitura do vinho tiveram que passar por rigorosos processos de higiene. São estes os preceitos religiosos que o vinho Kosher tem que seguir para ser certificado. «Em cada etapa do vinho não estamos apenas preocupados com o líquido mas com a nossa lei, com o que diz a nossa religião», refere Elisha Salas.

Rui Moreira, presidente da Adega Cooperativa da Covilhã, não tem dúvidas que o «excelente» néctar judaico será um «sucesso» e uma ponte para um mercado novo. «O vinho está a ser aceite na comunidade judaica americana e os contactos sucedem-se», diz, sublinhando a sua importância não só em termos comerciais, mas também para «reconciliar a história». Também Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) e um dos colaboradores do projecto, considera que o vinho Kosher português poderá abrir «novas portas de negócio» para novos produtos Kosher, bem como para servir de cartaz promocional da região, pois «não tem rival» em toda a Península Ibérica, sublinha. O importante, acrescenta, é «acompanhar esta velocidade cruzeiro». Opinião semelhante tem o autarca belmontense Amândio Melo, para quem a construção do Museu Judaico de Belmonte, a concretizar em breve, será também um «”chamariz”» para o turismo religioso. O objectivo a alcançar agora é produzir 500 mil litros de “Terras de Belmonte” para servir como símbolo do dia em que «se quebrou o silêncio», pediu o rabino Eliahu Birnbaum, do Rabinato de Israel e Amishav. O Kosher estará à venda a partir da primeira semana de Março na Adega Cooperativa da Covilhã, cuja comunidade judaica poderá adquirir o vinho com os mesmos descontos que os sócios da adega , no “El Corte Inglés” e em mais duas ou três garrafeiras de prestígio nacionais junto das comunidades judaicas.

Adega da Covilhã apta para «novos desafios»

Com mais de meio século de existência, a Adega Cooperativa da Covilhã está apta para enfrentar no futuro «novos desafios», adianta Rui Moreira. O presidente da cooperativa, fundada em 1954 por 147 associados, está apostado em introduzir «mais inovação e qualidade» na adega e «internacionalizar» os produtos.

Um passo que já está a ser conseguido com a comercialização do vinho Kosher português nos Estados Unidos e em breve no Canadá, para mostrar que Portugal tem «uma capacidade vinícola ao nível dos maiores produtores de vinho do mundo» e cuja «diversidade e qualidade» são sobejamente reconhecidas, acrescenta Rogério Mendes, consultor e agente da adega para o mercado externo. Para este empresário radicado nos Estados Unidos há 28 anos, o problema é que «ao longo dos anos, os portugueses não conseguiram mostrar essa qualidade», pois estão «pessimamente representados». Daí que a adega esteja a contar, a partir de agora, com cerca de trinta “amigos” e embaixadores para promover além fronteiras nacionais e regionais o vinho produzido na Beira Interior, como, entre outros, Jorge Patrão (presidente RTSE), Amândio Melo (autarca de Belmonte), Carlos Pinto (autarca da Covilhã) e José Manuel Biscaia (autarca de Manteigas).

Liliana Correia

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