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Os contratempos do 112

O número telefónico de emergência nem sempre é tão funcional quanto o desejado, o problema poderá estar no próprio sistema

O sistema do serviço nacional de emergência médica pode, por vezes, apresentar determinadas lacunas que não se adequam às situações reais da urgência. No dia 22 de Fevereiro, um idoso escorregou na berma de uma rua da Guarda-Gare, bateu com a cabeça e ficou prostrado num passeio junto ao cruzamento do rio Diz. Os transeuntes e alguns automobilistas marcaram de imediato o 112, mas efectuada a chamada a ambulância demorou 20 minutos a chegar ao local. Tempo precioso quando há vidas em jogo, e como o responsável do gabinete de comunicação do INEM, Pedro Santos, afirma «entre a vida e a morte cada minuto é importante».

Quando se marca o número nacional de emergência médica, o popular 112, a chamada é atendida por um operador, cuja central está, no caso da Guarda, instalada na PSP, a qual encaminha a chamada consoante a gravidade da ocorrência. Foi o que aconteceu na situação acima descrita. Considerada um caso emergência médica, a chamada foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), sediado em Coimbra. Esta central faz, por sua vez, uma nova triagem da situação rotulando e, se considerar o caso urgente, «acciona o meio mais adequado em função dos meios que disponibilizam», explica Pedro Santos.

Contudo, o «problema» do sistema é que há «muitas chamadas à espera e todas são urgentes», afirma Luís Santos, comandante dos Bombeiros Voluntários da Guarda, para justificar o tempo demorado na ligação entre o CODU e a corporação local. No caso em concreto, Luís Santos assevera que os bombeiros demoraram «cerca de 10 minutos e nunca os 20 referidos» e ainda assim devido às «condições adversas provocadas pela neve». No entanto, como explicou o comandante, os bombeiros acabaram por ser accionados por outro popular que se encontrava no local e ligou directamente para o quartel a reclamar por causa da demora, e não pelo CODU. Ironia do destino, a ambulância foi solicitada pelo CODU no preciso momento em que esta chegou ao local do acidente, porque ligaram de Coimbra para o autor do primeiro telefonema para dar indicações de como prestar os primeiros socorros.

O comandante da PSP da Guarda acredita, por sua vez, que a «questão é da filosofia do sistema» e garante que, desde que existem as duas linhas RDIS, «não tem havido reclamações de mau funcionamento». Contudo, segundo Gonçalves Sampaio, houve uma remodelação do serviço e uma nova central telefónica do 112 está instalada na Guarda desde 16 de Janeiro. A eficácia deste novo equipamento ainda está em fase de estudo, mas num primeiro momento «poderá ser considerada menos funcional do que a anterior», refere o comandante, acrescentando que os serviços centrais já foram alertados para tal e tomarão as devidas diligências, «se for caso disso». Quanto ao atendimento «menos cordial», testemunhado pelos populares revoltados, o responsável garante que há formação para especializar os agentes em causa e admite que este tivesse sido «um caso pontual», até porque não tem recebido reclamações desse âmbito. Segundo os dados mais actualizados (2001) do INEM, terão sido realizadas a nível nacional mais de 10 milhões de chamadas para este número, das quais 80 por cento são falsas. A evidente «falta de civismo da população», como classifica Pedro Santos, que explica com estes números a «necessidade de se passar por um processo complexo» no qual é realizado, em segundos, uma triagem do que é urgente ou não, bem como pode «desculpar», esporadicamente, o «atendimento menos adequado» de alguns monitores. Por isso assegura que o «tempo é sempre justificado».

Contudo, Luís Santos acredita que há outras soluções para este sistema e que poderiam passar pela congregação de todas as instituições envolvidas num mesmo espaço físico: «Desta forma economizava-se tempo», garante, admitindo, em contrapartida, que esta alternativa implica um «grande esforço financeiro». Mas o comandante guardense confia «plenamente» no actual sistema do 112, até porque o CODU faz «boas triagens», o que permite «accionar os meios mais adequados» a cada situação.

Patrícia Correia

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