Arquivo

“Presidente Hollande, Paris não dorme”

Dezenas de milhares de pessoas encheram esta noite a Praça da Bastilha e as ruas adjacentes, em Paris, para festejar a vitória socialista e ver o novo Presidente, que só chegou ao local depois da meia-noite.

Pessoas das mais variadas origens, bandeiras de todas as nacionalidades e das diversas tendências da esquerda, famílias inteiras na confusão, telefones móveis sem rede, muita música e milhares e milhares de jovens.

Esta noite, na zona da Bastilha, em Paris, a concentração de manifestantes era tão densa que, para atravessar a histórica praça, era preciso coragem, grande paciência, não sofrer da fobia das multidões e não recear encontrões nem calcadelas.

Paris festejou, esta noite, a mudança de Presidente de uma forma tão apaixonada que parecia, por momentos, estar a celebrar a chegada ao paraíso. A vitória foi por escassa margem, mas o que as pessoas festejavam era sobretudo o fim de Nicolas Sarkozy.

“Sarkozy foi um acidente em França e, agora, que perdeu a imunidade presidencial, vai ter de responder à justiça devido aos escândalos em que se meteu”, dizia um jovem. A aversão a Sarkozy era um dos aspetos mais salientes da emotiva manifestação.

“Somos uma esperança para a Europa”

A festa desta noite na Bastilha evocava maio de 1981, quando o socialista, François Mitterrand, conquistou o Eliseu derrotando Valéry Giscard D’Estaing. Para um português, lembrava também um pouco o ambiente dos dias de euforia que se seguiram ao 25 de Abril de 1974.

Os parisienses, esta noite, não desejavam pensar no dia de amanhã, na crise, e na realidade da governação do futuro poder socialista. “Temos direito de sonhar, Presidente Hollande, Paris não dorme!”, exclamava um jovem.

Quando o novo chefe do Estado chegou ao local pouco depois da meia-noite (hora de Paris), foi recebido por um clamor estrondoso. Ele sorriu, satisfeito, agradeceu e disse à multidão: “obrigado, recebi a vossa força, percebo-vos, vamos ter de reparar estes anos de penas que vocês sentiram, quero ser o Presidente de todos vós, quero reunir o povo francês e reconstruir a nação francesa na sua diversidade, sem rancores nem vinganças”.

Incessantemente aclamado, falou da Europa: “Somos uma esperança para a Europa, temos de acabar com a austeridade e, para além dos governos, por todo o lado, há povos que pensam como nós que querem uma alternativa, estamos a iniciar um movimento que vai muito além da França, fiquem orgulhosos de ser franceses!”.

As famílias e os mais velhos encetaram depois o regresso a suas casas e os mais jovens continuaram na Praça. “Queremos continuar a saborear este sonho e esta vitória de hoje, mas sabemos que a realidade regressa amanhã”, explicou um estudante.

www.expresso.pt

Sobre o autor

Leave a Reply