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Precipitações, equívocos ou “o quê”?

Há dias, quando assistia ao noticiário da RTP, li em rodapé que, segundo informação da Região de Turismo da Serra da Estrela, a estimativa de crescimento de dormidas na região seria de 5 por cento.

Mais recentemente, a mesma notícia aparece publicada em diversos jornais e neles tive ocasião de ler outras afirmações atribuídas ao senhor presidente da RTSE, como de que na Serra existe um «visitante mais qualificado» e que «procura um turismo mais prático». Afirmações que me merecem algumas reflexões, devidamente assinaladas com três pertinentes e justificativos pontos de admiração ou exclamação!

O primeiro porque, para além de não conseguir descortinar o que o senhor presidente da RTSE classifica de «turistas mais qualificados», tão pouco consigo descobrir por onde andam. E, seguindo tal raciocínio, poder-se-á até concluir que os «menos qualificados» terão até certamente recorrido, coitados, aos Alpes, Pirinéus ou Serra Nevada.

O segundo porque os meus parcos e limitados conhecimentos não me permitem compreender o que será um «turismo muito prático», designação ou conceito que creio não existir em Turismo.

O terceiro porque, ao pronunciar-se acerca da presumível subida de 5 por cento de dormidas na Serra em 2004, relativamente a 2003, e sem que para tanto tenha consultado a grande maioria dos hoteleiros da região, o senhor presidente da RTSE ter-se-á baseado, possivelmente, em elementos que lhe terão sido indicados pelo responsável dos “únicos dois hotéis da Serra da Estrela” (forma abusiva como, em brochura publicada, este classifica as suas duas unidades hoteleiras – um hotel e uma estalagem).

A ser assim, o que não me surpreende, o senhor presidente da RTSE ter-se-á equivocado, ignorando que a região não se limita à zona que circunda aquelas duas unidades. E poder-se-ia até considerar esta situação como sem importância, só que, inserida no contexto de outras que, periodicamente, têm vindo a público, levam a concluir não se tratar de actos meramente ocasionais.

Para tanto recordo até a notícia, igualmente falsa, publicada no princípio de Dezembro último e que dava conta ao país que os hotéis da Serra já estavam completos para o final do ano, o que não correspondia à verdade.

Os autores destas proezas (não sei se intencionais, se precipitadas) deveriam preocupar-se com as gravosas consequências decorrentes dos seus actos e ponderar, de uma vez por todas, que a Serra de Todos Nós é bem mais ampla que a Sua Serra.

Recomenda-se, assim, ao senhor presidente da RTSE um pouco mais de cuidado, o mesmo que deverá ser usado por todos aqueles que terão a seu cargo a missão de escolher o seu sucessor. Estes deverão acordar finalmente da letargia, ou sono hipnótico, em que têm andado mergulhados e não voltar a cometer o erro de, na possível mira de um “turismo mais prático”, escolherem igualmente de forma simplesmente prática.

À classe política cabe o dever de, na intransigente defesa dos interesses da região, agir com honestidade, transparência e bom senso, o que infelizmente, no caso vertente, não tem sucedido. Lamentavelmente!

Jorge Camelo, Seia

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