A região da Guarda é, de facto, uma terra de centralidades. Nela se encontram dois eixos rodoviários estruturantes do país – o IP2/A23 e o IP5/A25 – e dois eixos ferroviários – a Linha da Beira Alta, principal ligação ferroviária a Espanha e ao centro da Europa, e a linha da Beira Baixa.
Até a natureza construiu no território da Guarda a marca da sua centralidade, pois nesta região as águas da chuva alimentam a dispersão hídrica de três das principais bacias hidrográficas nacionais: Mondego, Tejo e Douro.
Voltando às vias estruturantes: estas têm potenciado a integração simultânea da região em dois grandes eixos urbanos:
– o corredor norte, composto por Aveiro, Viseu e Guarda com ligação a Espanha;
– e o corredor interior, composto por Castelo Branco, Fundão/Covilhã e Guarda, com a região a servir de ponto de interseção dos dois eixos numa das extremidades.
(deixemos para outra ocasião a ligação a Espanha, que tem sido central para o crescimento da Guarda nos últimos anos, mas que está muito menos potenciada do que poderia ser)
Vale a pena refletir sobre o facto de, apesar de tamanha centralidade no território nacional, aquilo que se tem verificado é que a região é periférica em ambos os corredores, não retirando da sua dinâmica atual todos os benefícios que poderia tirar. Pior: no corredor que segue para norte, e que atravessa quase metade do distrito até Vila Nova de Foz Côa e ao Pocinho, não houve nas últimas décadas qualquer visão para potenciar uma ligação às cidades do distrito de Bragança e à sua capital.
Quando falamos em corredores – por exemplo, nesse corredor Guarda-Foz Côa-Torre de Moncorvo-Macedo de Cavaleiros-Bragança – falamos em partilha de investimentos, em uso partilhado de infraestruturas e serviços, em procura conjunta de capitais e de investimento externo, em ações de promoção conjunta em mercados e feiras internacionais dos produtos e de oportunidades de negócios na região.
Uma estratégia de funcionamento em eixo, ou corredor, implica dar e receber, fazer trabalho para os outros, aceitar a primazia de prioridades que não são as nossas. Mas o modelo empresarial e económico do território da Guarda tem tanto a ganhar com isso, a sua situação geográfica e o seu caráter de nó rodoviário e ferroviário dão-lhe tantas caraterísticas de centralidade para beneficiar dessa dinâmica, que os líderes empresariais, políticos e administrativos da Guarda deviam colocar esse funcionamento em rede com as cidades de outras regiões como uma prioridade essencial.
Só se ganha escala quando se tem visão.
Por: Acácio Pereira
* Dirigente sindical