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Portugueses de primeira

Crónica Política

Todos os dias, o Governo pede novos sacrifícios aos Portugueses para cumprir as metas impostas pelo Fundo Monetário Europeu. Esta é uma solicitação que não surpreende ninguém, nem mesmo os mais fiéis apoiantes de Passos Coelho contestam.

Se não é uma novidade nem uma surpresa para ninguém, qual o interesse de fazer uma crónica sobre este assunto?! Simples, os sacrifícios são reais, são excessivamente pesados mas não se aplicam a todos. Vejamos um pequeno exemplo.

O Governo da República diz que não haverá descontos ou isenções para moradores e agentes económicos nas SCUTS que servem o interior do país, onde transitam diariamente milhares de veículos, que servem as populações e a economia portuguesa, ao ligar a principal fronteira terrestre com a Europa, ou seja, que o dinheiro público não chega para pagar os gastos com estes equipamentos.

Mas o mesmo dinheiro que não chega, irá chegar (sem qualquer dúvida que chegará) para pagar subsídios de insularidade, chorudos subsídios ao Jornal da Madeira (conhecido pela sua imparcialidade, principalmente nos artigos de opinião do Sr. Presidente do Governo Regional), os túneis e as vias rápidas que servem poucas dezenas de habitantes, os equipamentos que após inauguração (sempre próxima de actos eleitorais) são fechados porque a inauguração era o verdadeiro objectivo, entre outras obras de duvidosa eficiência (sempre construídas pelas mesmas empresas, obviamente). A tudo isto podemos ainda acrescentar um regime de IVA bem mais favorável do que aquele que por aqui se pratica…

Como é por todos sabido foi descoberto um buraco financeiro nas contas do Governo Regional. A sua dimensão, sobre a qual muito se especula, é ainda desconhecida em exactidão, no entanto já foi admitido ser de 5.000.000.000 euros (cinco mil milhões de euros). O número só por si assusta, mas ninguém acredita que fique por aqui.

Permitam-me um pequeno exercício de comparação, tendo por base este valor que não traduz a dívida real, mas que foi assumida numa entrevista na comunicação social, com a dívida da Câmara Municipal da Guarda:

– Por cada madeirense (267.938 habitantes segundo os recentes dados preliminares dos censos) a Nação endividou-se em 18.661 euros;

– Por cada guardense (42.460 habitantes para uma dívida de 53.000.000 euros) a mesma Nação endividou-se em 1.248 euros.

Isto é, o endividamento por cada madeirense é 15 vezes superior ao endividamento por cada guardense.

A situação é ainda mais grave se tivermos em conta que autarquias como a da Guarda têm visto as verbas transferidas diminuir para controlar a dívida e o Governo Regional da Madeira esconde deliberadamente as contas para depois falar em “legítima defesa”.

Vamos tolerar isto até quando? Vamos continuar a pagar impostos e ficar calados em relação a este escândalo até quando?

Não pretendo atacar este Governo, porque os anteriores (todos eles), foram cúmplices desta situação, mas será que não chega já de o interior do país e as suas populações serem penalizados para favorecimento de outros Portugueses?

Sinceramente, acho que os culpados somos todos nós, povo de brandos costumes, que permitimos que situações destas continuem a acontecer.

Termino com uma pequena nota. A ideia de independência da Madeira não me é particularmente querida, no entanto é uma ideia que cada vez mais me agrada sempre que o Governo anuncia novas medidas que vão ter impacto no meu bolso. Pena é que as ideias independentistas dos comícios da noite, sempre bem regados, desapareçam sobre a manhã, onde a sobriedade e a necessidade que os tontinhos do continente continuem a mandar cheques em branco fala mais alto.

Por: Nuno Almeida, presidente da Concelhia da Guarda do PS

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