Fuentes de Oñoro é a localidade onde se regista uma maior dimensão da prostituição na região, seguida de Ciudad Rodrigo, estando os portugueses da Beira Interior entre os clientes mais assíduos. Esta é uma das conclusões que Johanna Schouten, antropóloga na Universidade da Beira Interior (UBI), retira do estudo sobre prostituição nas zonas fronteiriças que está a ser desenvolvido em parceria com as Universidades do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro desde 2001.
O estudo, que foi desenvolvido durante três anos apenas em casas de prostituição, pretende «dar um retrato mais geral e objectivo sobre as mulheres que trabalham na prostituição», desde as motivações à realidade sócio-económica de onde provêem. «Às vezes, na comunicação social, falam-se apenas de casos dramáticos. É importante falar sobre isso, pois existe miséria na prostituição, mas não só», adverte a antropóloga, uma vez que muitas das prostitutas são-no não por uma necessidade de sobrevivência mas porque pretendem «ganhar mais dinheiro», explica, encontrando-se em algumas casas de alterne mulheres com níveis superiores de escolaridade. «Há também casos em que as mulheres são prostitutas para poderem tirar um curso superior e terem uma carreira como juízas ou na ciência», adianta. Mas de todas as zonas estudadas – Alto Minho, Trás-os-Montes e Beira Interior – é no Norte do país, «entre Vigo e Valença», que a prática de prostituição acontece em «maior escala», seguida de Trás-os-Montes. Para os lados da Beira Interior, apenas em Fuentes de Oñoro e em Ciudad Rodrigo se verificam grandes quantidades de casas, pub´s e cafés de prostituição.
«Em todos os países, as zonas de fronteira manifestam normalmente uma concentração de oportunidades para a prostituição», justifica Johanna Schouten, para além de que os homens se sentem mais à vontade por já estarem no outro lado da fronteira. Embora haja portuguesas, africanas e sul-americanas no ramo, são as brasileiras que acabam por dominar em terras portuguesas e na raia espanhola, motivadas pelo «sonho de terem um futuro melhor do que a situação que deixaram no Brasil», conta a antropóloga. Vindas essencialmente do Nordeste brasileiro, como Fortaleza ou o Recife, muitas das brasileiras entram «temporariamente» no ramo da prostituição, pois querem dar uma vida melhor aos filhos ou pretendem «tentar de novo» após uma desilusão amorosa. «É bem possível que as mulheres trabalhem como prostitutas para depois terem uma carreira no Brasil», supõe.
Falar de política e futebol
«O meio, a localização e a dinâmica deste ramo» foram também objecto de estudo dos sociólogos das três universidades, o que por vezes se tornou complicado dada a «volatilidade» do ramo causada não só pelo tráfico de mulheres, mas também «pela necessidade de existirem sempre raparigas novas nas casas de prostituição». Segundo o estudo, os homens querem ter mais variedade e «é esse o motivo pelo qual recorrem às prostitutas. Querem ter mais variação na vida e nos seus contactos», explica a coordenadora do projecto na Beira Interior, além de que, por vezes, «não está só em causa a questão sexual» mas a companhia de uma mulher instruída e com classe com quem podem conversar sobre política ou futebol. «Uma das coisas que verificámos no nosso trabalho é o difícil acesso a estas mulheres. Falam muito, mas nem sempre se sabe se é verdade, pois já aconteceu dizerem hoje uma coisa e amanhã outra», revela a antropóloga, para quem é preciso acima de tudo «ganhar a confiança das mulheres».
Os dados da investigação encontram-se agora a ser analisados para serem incluídos no relatório final sobre as localidades analisadas. Entretanto, a antropóloga de nacionalidade holandesa, a dar aulas na UBI desde 1987, já tem na calha outro projecto. Voltar no Verão a uma localidade na Indonésia para estudar a etnicidade daquela região, onde fez investigações há vinte anos atrás, e sobre o qual acabou por fazer o doutoramento. «Como se trata de uma região com uma minoria católica num país em que há muitos muçulmanos, vou ver como as coisas mudaram, saber quais os meios para reforçar a identidade e as relações inter-religiosas na Indonésia», explica.
Liliana Correia