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Portagens Amovíveis?

Quebra-Cabeças

Imaginemos que Santana Lopes leva a sua avante e consegue em dois anos crivar de portagens a A23 e a A25, deitando assim para o caixote do lixo o sistema das SCUT herdado dos governos de Guterres. Imaginemos agora que o PSD perde as próximas eleições legislativas, antecipadas ou não, e que o PS recupera o poder. Deverá Sócrates responder na mesma moeda, repondo o sistema das SCUT e desmantelando as portagens e assim cumprindo uma promessa que está implicitamente a fazer?

A questão é que tudo isto custa muito dinheiro. Santana Lopes vai ter de pagar indemnizações pela denúncia dos actuais contratos, projectos para a implantação das portagens e dos respectivos acessos, vai ter de construir estradas alternativas de acesso à auto-estrada nos locais em que sejam eliminadas algumas das actuais dezenas de saídas, vai ter de contratar centenas de funcionários, vai ter de recuperar troços de estrada hoje abandonados ou até destruídos por sobreposição pelas novas auto-estradas, vai ter de adaptar as actuais saídas e fazer as obras das portagens propriamente ditas. Em muitos casos isto implica novas expropriações, uma vez que a área adquirida não é suficiente para as obras que se prevêem necessárias.

Para além do dinheiro que se vai gastar, e que vai ter de ser subtraído como custo aos putativos benefícios do novo sistema, teremos de contar também com o desperdício resultante do fim do sistema SCUT. Este também teve elevados custos de implantação e concepção. Para além disso, criou expectativas em pessoas e empresas, suscitou investimentos e planos a longo prazo, constituiu um factor de desenvolvimento. A sua extinção irá causar graves danos nas pessoas que investiram no pressuposto da sua permanência e estes danos vão ser também eles um custo, embora indirecto, do novo sistema – assim prejudicando ainda mais a sua prevista eficiência.

Valha-nos que José Sócrates vai terminar com a iniquidade que Santana Lopes se prepara para cometer e vai desmantelar rapidamente as portagens que este se prepara para instituir. É claro que isto também vai ter custos. Vai ser necessário despedir, e indemnizar, as centenas de funcionários que o Sr. Lopes se prepara para contratar. Vai ser necessário voltar a contratar, e financiar, a implantação de um novo sistema SCUT. Vai ser necessário reabrir ao público as saídas entretanto encerradas e demolir as obras feitas por este governo. As expropriações entretanto feitas vão implicar que o Estado vai ficar com hectares e hectares de terreno entretanto inútil.

Posto isto, há várias soluções para a questão: a primeira vai ser o Sr. Sócrates esquecer as suas promessas e passar uma esponja sobre o assunto, que passará a facto consumado, culpando de caminho o Sr. Lopes pelo sucedido; a segunda será este último contratar funcionários a prazo, construir portagens amovíveis, alugar os terrenos em vez de os comprar e assumir de uma vez por todas que vai estar por cá pouco tempo; a terceira será o Sr. Lopes ter um apropriado intervalo de lucidez e desistir da ideia de uma vez por todas.

Por: António Ferreira

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