«Nem agora, nem nunca», gritaram cerca de meio milhar de pessoas, na passada quarta-feira, às portas de Almeida contra o fecho da agência local da Caixa Geral de Depósitos (CGD), agendado para a próxima quarta-feira, dia 27.
O protesto foi convocado pela autarquia e, além da mobilização popular e das palavras de ordem, ficou simbolicamente marcado pelo fecho da porta da entrada principal da antiga fortaleza. «Vamos à luta», foi uma das frases mais repetidas pelos populares que exigem a manutenção do balcão do banco público, com o presidente da Câmara a garantir «determinação» para reverter esta decisão da Caixa. «Se o fecho se concretizar, Almeida será a única sede de concelho sem balcão da CGD, o que é uma injustiça», criticou Baptista Ribeiro, que garantiu que «vamos até Lisboa se for preciso» para impedir que tal aconteça. Entretanto, o edil convocou a população a manifestar-se novamente ontem – após o fecho desta edição – no mesmo local caso a administração da CGD não volte atrás e receba o autarca. «Para que serve o trabalho da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que defende que não pode haver mais nenhum enceramento de serviços no interior, quando acontece uma coisa destas?», perguntou Baptista Ribeiro, numa indireta ao primeiro-ministro António Costa.
Nesta ação os manifestantes exibiram cartazes com mensagens como “Caixa em Almeida Sim! Mais um deserto no interior, não” ou “Encerrar CGD em Almeida é crime nacional”. Por sua vez, o vice-presidente da autarquia sustentou que a agência de Almeida deve continuar aberta, tal como a de Vilar Formoso, que «deve ser considerada uma agência de âmbito nacional» por ser «importante não só para o concelho, mas também para o país», justificou José Alberto Morgado. Também a presidente da Junta de Freguesia, Fátima Gomes, eleita pela CDU, sublinhou que a CGD «faz falta» em Almeida porque é um banco que tem «obrigações diferentes da banca privada» ao disponibilizar serviços financeiros obrigatórios, pagar pensões e reformas. Leonel Ferreira, de 73 anos, critica a decisão e receia que esta medida faça a sua vida «andar para trás».
«Se fechar, como dizem, vou ter que ir a Vilar Formoso receber a reforma, o que é um incómodo porque terei que ir de táxi», disse este almeidense, para quem o encerramento do balcão será «o princípio do fim» da vila raiana. O protesto contou com a presença dos deputados da Assembleia da República Paulo Sá (PCP) e Moisés Ferreira (BE), ambos membros da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, enquanto os eleitos pelo círculo da Guarda enviaram mensagens a solidarizar-se com os almeidenses. O comunista considerou que esta luta «é justa» e que a população tem que «continuar a exigir» que a CGD continue em Almeida. Também o eleito bloquista assumiu que ainda é possível «manter a agência aberta» porque a Caixa tem «uma obrigação de serviço público» para com a população. «Um banco público não foge do interior, não promove a desertificação, tanto mais que está a ser recapitalizado com o dinheiro de todos nós», disse Moisés Ferreira. Na terça-feira será a vez da população de Silvares (Fundão) contestar na rua o fecho da Caixa naquela localidade.
Balcão móvel em vez de agência
A Caixa Geral de Depósitos vai disponibilizar um balcão móvel para as populações mais idosas que fiquem sem agência, anunciou na quarta-feira o presidente do banco, Paulo Macedo.
O plano ainda está a ser estudado, mas já há autorização do Banco de Portugal. «O que pretendemos relativamente a esta possibilidade é ver que tipo de serviços é que a carrinha pode ter, porque há uma questão relativamente aos valores», afirmou o responsável. «Se tiver um ATM, tem que se perceber como é feita a segurança. Nesse caso teria que ser uma empresa de segurança a disponibilizar este tipo de serviços com comerciais nossos», exemplificou Paulo Macedo. O presidente do conselho de administração da Caixa foi interpelado pelo deputado do PCP Paulo Sá sobre o caso de Almeida. No mesmo dia, mas durante o debate quinzenal no Parlamento, o primeiro-ministro defendeu que o encerramento de balcões da Caixa tem de ser visto caso a caso. Em resposta a uma questão colocada pelos “Verdes”, António Costa referiu que «uma coisa são as circunstâncias existentes em Almeida, outra são as condições no Tagus Park (Oeiras). Acho que o bom senso deve prevalecer e temos confiança na administração da Caixa para que saiba avaliar cada situação como sendo uma situação concreta».
Luis Martins