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População da Ima contesta localização de ETAR

AZC garante que «não está de costas voltadas para a população» e que local alternativo proposto pela Junta do Jarmelo está a ser estudado

A localização de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais na aldeia da Ima, freguesia de São Pedro do Jarmelo, está a provocar a revolta da população. Tudo porque a instalação da ETAR está programada para um local que dista «menos de cem metros» de algumas habitações. Confrontada com os protestos dos habitantes da pequena aldeia, a Águas do Zêzere e Côa (AZC), empresa responsável pela exploração da ETAR, assegura que um local alternativo, proposto pela Junta, já está a ser analisado, pelo que a mudança ainda é possível, apesar das obras começarem a breve prazo.

Agostinho da Silva, secretário da Junta de Freguesia de São Pedro do Jarmelo, lamenta que a autarquia e a população só tenham «tomado conhecimento de que as obras estariam para breve quando, um dia, um empreiteiro se apresentou na localidade com um mapa e algumas dúvidas», indica. «As pessoas estão descontentes porque acompanharam o processo sempre por fora. Oficialmente, nunca tivemos resposta da AZC às nossas tentativas de contacto», garante, considerando o processo «um bocado esquisito», porque os moradores e a Junta nunca foram informados do projecto e souberam dos coisas «por “portas e travessas”», diz. Segundo Agostinho da Silva, «é intenção da AZC instalar a ETAR a menos de 100 metros de casas de habitação num vale agrícola e em local visível de toda a aldeia», situação que está a motivar o descontentamento dos habitantes da Ima, pequena anexa de São Pedro do Jarmelo. «As pessoas estão um bocado desagradas, mas não estão contra o facto de ter cá os esgotos, pois percebem que eles têm que estar nalgum lado», assevera.

Mas a população continua a acreditar que a ETAR pode ser mudada para um local mais distante das casas, tendo a Junta feito um levantamento topográfico do local alternativo que «já foi entregue na AZC», diz Agostinho da Silva. Nesse levantamento constatou-se a «possibilidade, em termos de cotas, de instalação da ETAR a cerca de 300 metros do local previsto», o que moradores e autarquia consideram suficiente para que o equipamento «não afectasse tanto a qualidade de vida da população», sublinha. Joaquim Almeida é um dos habitantes da Ima que mora mais perto do local previsto para a instalação da futura ETAR e está «profundamente contra» essa localização. «Nós só queremos que a ponham a mais 300 metros. Até apanha um “altinho” e assim já nem se vê do povo», realça. Quem desdramatiza estes protestos é João Damasceno, director de Exploração da AZC, que salienta existirem «muitos outros casos como este». Assegura, no entanto, que o levantamento entregue pela Junta do Jarmelo está a ser «estudado e considerado», pelo que ainda é possível a alteração da localização proposta inicialmente.

Contudo, o engenheiro garante que não há razões para a «habitual desconfiança» das pessoas em casos destes. «A tecnologia com base em leitos de macrófitas prevista para a ETAR da Ima é inodor e apresenta a melhor introdução paisagística possível», assegura. Quanto à data do início dos trabalhos, Damasceno refere que a obra está adjudicada e pode começar «a qualquer momento», uma vez que a questão da localização vai resolver-se «rapidamente». Outra situação que está a provocar «ainda mais revolta» junto dos moradores da Ima é o facto da ETAR ir servir a população das aldeias vizinhas da Devesa e de Valdeiras, «não se perspectivando no tempo a execução da rede de saneamento básico na Ima», adianta Agostinho da Silva. «O que também deixou as pessoas um bocado “estranhas” foi terem que receber os esgotos de outras aldeias e a deles não ter esgotos, o que torna as coisas ainda mais caricatas. É um bocado surrealista estarmos a receber a porcaria dos outros sem termos rede de saneamento básico», ironiza.

Ricardo Cordeiro

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