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Poluição no Rio Távora preocupa Aguiar da Beira

Moção aprovada na última Assembleia Municipal exige responsabilidade penal dos autores das últimas descargas poluentes

A Assembleia Municipal (AM) de Aguiar da Beira aprovou, na passada quinta-feira, por unanimidade uma moção onde exige aos organismos competentes a identificação e responsabilização penal dos autores das últimas descargas poluentes que foram feitas no Rio Távora. O problema já é antigo, mas continua sem solução à vista. Todas as entidades competentes já foram alertadas, mas a situação já se arrasta há quase 20 anos.

No passado dia 21, apareceram centenas de peixes mortos junto à Ponte do Abade. O caudal do Rio Távora apresentava «claros indicadores de poluição, tendo em conta a nata visível à superfície, a cor esverdeada da água e o odor nauseabundo», afirmou o deputado municipal Lino Lopes, durante a AM de Aguiar da Beira. Nessa sequência, foram encontradas centenas de peixes mortos ao longo do percurso do rio, na sua maioria barbos, com especial incidência no sítio do “Açude” na localidade de Ponte do Abade. A moção aprovada chama-se “Pelo ambiente, pelo futuro, por todos nós!” e exige do Estado e dos seus organismos competentes «a identificação dos responsáveis e correspondente responsabilização penal. Além de uma fiscalização eficiente». De acordo com a moção aprovada, que serve também para manifestar a indignação do órgão autárquico, «há muito que as descargas poluentes para o Rio Távora são visíveis e sistemáticas, especialmente, nas alturas de alguma precipitação e aumento de caudal». No entanto, até à data «nunca foram identificados e responsabilizados os autores de tais crimes ambientais». O texto refere ainda que este acontecimento «trará consequências ambientais incalculáveis, uma vez que esta é a época normal de desova». Para além da morte dos peixes, a poluição poderá vir a afectar «toda a fauna e flora envolvente ao rio», especialmente, a agricultura tradicional praticada nas suas margens, alerta a mesma moção.

Logo que a situação foi identificada, esteve no local uma equipa de protecção da natureza dos destacamentos da GNR, que recolheu peixes mortos e amostras de água para análise, com o objectivo de determinar a fonte poluidora. No entanto, ainda são desconhecidas as causas deste atentado ambiental. Esta é mais uma a somar às várias descargas que têm sido feitas ao longo dos anos. «Mas, ultimamente, tem havido mais, cerca de duas a três por semana», refere Jorge Proença, dirigente da Associação de Protecção da Natureza (APN) do Concelho de Trancoso, cansado de alertar para o sucedido. Acrescentando ainda que «as descargas têm sido feitas com um caudal superior». Por isso, o dirigente ficou satisfeito com a moção apresentada pela AM de Aguiar, porque «é mais uma forma de se despertar para a consciencialização ambiental». Para Jorge Proença, a solução passava por «uma maior fiscalização das entidades competentes».

Recorde-se que “O Interior” já tinha noticiado em Dezembro do ano passado, um outro atentado ambiental ao rio Távora junto à localidade de Montes, na freguesia de Santa Maria (Trancoso), denunciado pela APN. Na altura, Jorge Proença descreveu que a descarga seria feita directamente de uma lagoa «através de um sistema rudimentar, que, por rego aberto, corre para o lameiro e encontra o riacho». Em relação a esta queixa, o dirigente da APN recebeu da Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) uma resposta «ambígua», onde se dava conta de alguns autos levantados à empresa de lacticínios, Lactovil a qual «já foi algumas vezes multada, e outras vezes foi absolvida pelo Tribunal». De resto, a moção da AM de Aguiar da Beira vai ser enviada para diversas entidades, nomeadamente, para os Ministros do Ambiente, da Agricultura e da Economia, Governo Civil da Guarda, CCDR do Centro – Sub-divisão Regional da Guarda, entre outras.

Patrícia Correia

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