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Política Municipal de Desporto

Para quando a definição de uma política desportiva para o concelho? A interrogação, que esconde uma reivindicação, vem sendo feita ao longo do tempo. De dirigentes a atletas, de treinadores a jornalistas, novos e velhos, todos de uma maneira geral e mais ou menos regularmente se têm referido à inexistência de uma política desportiva como um dos grandes óbices para o desenvolvimento desportivo. Até agora a interrogação nunca teve resposta digna de registo. As medidas no campo desportivo, têm surgido desgarradas, muitas vezes mais em obediência a modas ou a tendências do que como corolário de acções racionais. Nem mesmo o principal documento definidor das linhas estratégicas de desenvolvimento da Guarda apresentado por alturas do famoso PDM, que dedicava ao Desporto algumas orientações e metas conseguiu dar uma linha bem definida de qual a politica desportiva a seguir nos próximos tempos pela Autarquia. Temos é certo, as batidas linhas programáticas dos partidos por ocasião das campanhas eleitorais. Nessas alturas tudo é prometido. Depois quase nada é levado à prática.

Por todas estas razões foi com um inusitado interesse que recebi a notícia de que a Guarda iria ter dentro em breve uma Política Municipal de Desporto. A expectativa aumentou quando soube que o projecto apresentado no executivo camarário tinha recebido a unanimidade dos partidos aí representados. Seria esse o sinal de que finalmente o panorama desportivo iria mudar para melhor?

Ao fim de algum tempo, não sem que para tal tivesse de me deslocar de propósito por duas vezes à Câmara, lá consegui ter acesso ao almejado documento. Teria sido muito mais fácil se a Câmara num esforço de divulgação e de participação, que aliás em assuntos destes é sempre aconselhável, tivesse enviado o documento para as escolas e as colectividades, ou mesmo tivesse colocado o texto na sua página na Internet. Mas adiante….A leitura das poucas e nem por isso bem redigidas páginas do documento não é fácil nem interessante. Depois de algum esforço de concentração e de perseverança, lá se consegue chegar ao fim (se não fosse por ter de escrever o artigo desconfio que nem ao meio teria chegado). O mau mesmo é chegar ao fim da leitura com a sensação de vazio. Afinal qual é a política desportiva da Câmara da Guarda? Onde estão as suas opções e objectivos delineados de forma clara e inequívoca? Quais as metas a que se propõe e em que prazos? Como é possível conceber uma política desportiva sem focar aspectos essenciais como as infra-estruturas a construir ou a melhorar, a criação objectiva de condições de prática e a interligação dos espaços desportivos com o ordenamento urbanístico? Como é possível falar de política desportiva sem ter atenção aos níveis de investimento e de orçamentação para o sector? Como é possível planear o desenvolvimento sem responder ao quanto ao como e ao quando? Ter este documento como instrumento capaz de produzir efeitos, de criar dinâmicas e de ter um impacto positivo sobre o Desporto do concelho é o mesmo que não ter nada. Dizer que se apoia o desporto de recreação e o desporto não formal e o formal e o dos deficientes e o de lazer e o de competição é o mesmo que nada dizer. O que uma Autarquia e um concelho precisa não é de documentos inócuos que nada adiantam nem nada trazem de novo.

Por: Fernando Badana

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