É mesmo assim! Em democracia, por um voto se ganha e por um voto se perde. Mas nestas eleições tudo foi diferente. Começou com uma campanha insonsa, de meros “casos”, e agora temos aí os resultados. Uma campanha onde o pessimismo de uns sempre contrastou com o optimismo de outros. Uma campanha onde a máquina partidária de uns soube sempre, e inteligentemente, aproveitar o “masoquismo” de outros. Numa palavra, uma campanha fedorenta onde a novidade foi mesmo o “gato fedorento”.
Por um lado, víamos, ouvíamos e líamos que os portugueses estavam fartos das políticas de uns, da sua arrogância, da sua prepotência e do seu abuso de poder durante quatro anos e meio. Mas, por outro lado, nesta campanha, e infelizmente ao contrário do que é habitual, esses descontentes não estavam a ser seduzidos por outros, por uma verdadeira alternativa, leia-se PSD.
Vai daí, e quer queiramos quer não, e só por isso ou talvez não, manifestaram a sua revolta e o seu descontentamento de uma forma sábia, que se traduziu num inovador xadrez parlamentar:
O Partido Socialista perdeu mais de meio milhão de votos e a maioria absoluta;
O PSD manteve praticamente o mesmo número de votantes;
O CDS passou a barreira dos dois dígitos e a terceiro partido mais votado;
O BE ultrapassou os objectivos em mais 550 mil votantes;
A CDU manteve o seu espaço;
A abstenção tornou-se a maior força política.
De facto, os números não enganam e os portugueses disseram ao PS, e de uma forma muito clara, que querem novas políticas, mais diálogo e mais bom senso. Que exigem uma nova atitude na resolução dos problemas.
Vai ser uma legislatura difícil, num contexto de crise que exige novas e modernas formas de agir e de governar, onde a política do vale tudo não tem lugar.
Vai ser uma legislatura com mais equilíbrio no plano parlamentar e onde a palavra-chave vai ser a da “negociação”. E negociação pontual e possível, só que, surpreendentemente e contra todas as expectativas, dependendo do CDS ou do PSD.
Apesar de legitimado pelos votos o novo Governo está “entalado”, não é forte e muito menos tem força. Mas será que Sócrates tem consciência da sua nova posição política? E se sim até quando conseguirá desempenhar esse novo papel, ao qual, todos sabemos, não estar habituado? Assim, será que o mandato vai durar até ao fim? Bom a ver vamos…O que é necessário é que o PS tenha de facto aprendido a lição e que governe bem, com sentido de responsabilidade e, já agora, com um novo olhar sobre as desigualdades sociais e sobre o interior.
Chegados aqui, é claro que fiquei triste com os resultados obtidos pelo meu partido. A culpa foi de alguns e a responsabilidade de outros. Mas, muitas vezes a perder se ganha… desde que saibamos fazer das dificuldades desafios, desde que aprendamos com os nossos erros e não percamos as esperanças.
Há que retirar consequências, assumir responsabilidades e não fazer de conta que não se passou nada, ainda que essa matéria tenha que ficar agendada, por razões óbvias, para depois das eleições autárquicas.
Não pode ser de outra forma, ainda que tenhamos assistido, logo no dia das eleições, ao habitual “atirar do tapete” de alguns como se apenas houvesse uma culpada. Claro que os tiros nos pés foram muitos, e ao longo de toda a campanha, e por isso era difícil esperar outros resultados. É que o povo está atento e não gosta de ser enganado…
Ficou provado que os tiques de arrogância e de sobranceria deram mau resultado. Não seduziram os eleitores em geral e entristeceram e desmotivaram muitos militantes e simpatizantes do PSD.
Só espero que o PSD aproveite a oportunidade para se reorganizar e renovar. Só espero que o PSD retome a sua força e dinâmica, e recupere a alegria de fazer campanhas e a empatia com os portugueses.
Por: Ana Manso *
* Deputada do PSD eleita pelo círculo da Guarda entre 1998 e 2009