Ainda o mito turístico. Não deve haver um único autarca neste país que não ande na boca com a «importância estratégia do turismo para o desenvolvimento». Este é apresentado como uma espécie de remédio santo para muitos dos nossos atrasos estruturais. Há sem dúvida neste discurso um misto de exagero, demagogia, ignorância e ingenuidade. Nas páginas deste jornal questionei recentemente o potencial turístico da região centro e da região da Serra da Estrela em particular. Volto à carga, desta vez munido de um estudo de uma docente da Universidade de Aveiro, divulgado pelo jornal Público. Eis alguns factos:
A região centro absorve 10% do turismo nacional. Coimbra absorve cerca de 40% dos turistas estrangeiros. Americanos, franceses, espanhóis, italianos, holandeses e alemães vêm à procura de museus e monumentos históricos. São «pessoas informadas e com habilitações literárias» e, pormenor importante, «com gastos razoáveis». Por exemplo, um turista americano tem uma despesa diária per capita de 126 euros, a de um espanhol ronda os 90 euros e a de um português fica pelos 50 euros. Pelos vistos, os portugueses gostam mais de atracções naturais, aldeias históricas, da serra da Estrela e das praias.
Enquanto os turistas estrangeiros se queixam mais da falta de preservação e limpeza do património, do trânsito caótico, da falta de sinalização e da pouca oferta cultural, os portugueses queixam-se (ao que consta, bastante) da qualidade das estradas e das infra-estruturas e do estado de conservação das atracções naturais.
Moral da história: a nossa região está condenada a gramar sobretudo com turistas portugueses, que gastam muito menos e se queixam muito mais. Triste destino!
Tarde demais. Afinal, as obras no centro histórico não arrancaram em Junho. Serão em Julho? Em Agosto? Em Setembro? Ainda este ano? No próximo ano? Não me parece. Nesta década? Neste século? Quem sabe?
Mas eu compreendo os sucessivos adiamentos. Os responsáveis da câmara, com certeza conhecedores da atracção dos turistas estrangeiros por património histórico (ver texto anterior), querem que o centro histórico caia todo. Que fique um monte de pedras e entulho. Já viram o que seria da Guarda se de repente começasse a ser invadida por estrangeiros? Lá se ia a nossa tranquilidade. E alguns dos dirigentes locais já estão a pensar na reforma. Querem é paz e sossego.
Talvez não fosse má ideia se se reformassem já. Imediatamente. Antes que seja tarde demais.
Uma vitória significativa e um mau sinal. Victor Amaral foi reeleito presidente do grupo de teatro Aquilo. Derrotou uma lista encabeçada por César Prata e apoiada por alguns “históricos” do grupo, onde se destaca Américo Rodrigues. Este último pormenor faz-me temer o pior. Já aqui escrevi que a promoção de Américo Rodrigues a “director-geral” dos espaços culturais da câmara me parece pouco sensata por ser susceptível de originar guerras entre a malta da cultura local. Este episódio é sintomático. Foi muito pouco inteligente da parte de Américo Rodrigues envolver-se nesta eleição. Agora, é certo, tem ao seu dispor mil e uma maneiras de sabotar o trabalho da lista eleita. Como é uma pessoa inteligente, estou convencido que não o fará. De qualquer maneira, se as coisas correrem mal a esta direcção, aparecerá sempre alguém, justa ou injustamente, a acusá-lo de meter o bedelho no trabalho dos outros. Ou Américo Rodrigues aprende a refrear o seu “apetite controlador” e a concentrar-se no essencial ou, caso contrário, perderá a maior parte do tempo a disparar em várias direcções, dando inevitavelmente pelo meio vários tiros nos próprios pés – como foi agora o caso. E ninguém ganha nada com isso.
Por: José Carlos Alexandre