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Pois, Pois

AS LISTAS. Volta e meia surgem em certos órgãos de comunicação social hipotéticas listas do PS e do PSD para a Câmara da Guarda. Não sei de onde vêm essas informações. Provavelmente, de gente que não tem nada que fazer e que se diverte a inventar “notícias”. E, no entanto, esta questão das listas é essencial. Nunca os candidatos à Câmara da Guarda precisaram tanto de arranjar umas boas listas. Ana Manso, porque está bastante descredibilizada e precisa como de pão para a boca de nomes credíveis que a acompanhem e lhe tragam votos. Valente, porque lhe falta popularidade junto do bom povo da Guarda, que não o conhece bem. Digamos que um tem um excesso e o outro tem um défice de notoriedade. Numa palavra, as listas, desta vez, vão ser decisivas nos resultados finais.

A PROMESSA DE CRIAÇÃO DE EMPREGO. Ninguém levou a sério a promessa de Sócrates – o homem depois chamou-lhe “objectivo” – de criação de 150 mil novos empregos. Eu próprio, confesso agora envergonhado, fazia parte da maioria de cépticos. Onde é que se vão arranjar tantos empregos? – Perguntava-me incrédulo. Esta semana desvendou-se parte do mistério. O Jornal de Negócios deu-se ao trabalho de pegar nos Diários da República e pôs-se a contar as nomeações feitas pelo Governo nos primeiros dois meses de governação. Mais de mil, o que perfaz uma média de 12,5 empregos por dia. Penso que se trata de um novo recorde nacional nesta área. Se o governo cumprir o seu mandato e mantiver este ritmo de “empregabilidade”, arranjará mais de 25 mil novos postos de trabalho. Mesmo assim, faltarão ainda 125 mil para atingir a meta. Dito de outro modo, um mandato não será suficiente, serão precisos mais quatro ou cinco. Por isso, quem estiver desempregado deve o quanto antes arranjar um cartão do PS e, claro, um padrinho. Afinal, Sócrates e os seus camaradas levaram mesmo a sério esta promessa e estão completamente determinados em cumpri-la. Esta gente não brinca em serviço.

20 ANOS DEPOIS. Foi no dia 12 de Junho de 1985 que assinámos a nossa adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), hoje União Europeia. O balanço é manifestamente positivo, apesar de nunca podermos saber como é que teria sido se não tivéssemos aderido. Depois de um período espectacular de crescimento entre o início dos anos 60 e1974, em que crescemos a uma taxa média anual próxima dos 7 por cento (o maior período de crescimento da nossa História), Portugal estagnou após o PREC por causa da colectivização dos meios de produção (as nacionalizações abrangeram um terço do sector produtivo) e, provavelmente, atrasámo-nos uma década devido a estas excitações esquerdistas. 1986 marca o início de uma nova época de prosperidade, que iria durar cerca de 15 anos – com um breve interregno em 1993.Em 1986, o nosso rendimento per capita representava 50% da média europeia, em 1999 era 76,9%, se considerarmos a média dos actuais 25 Estados-membros. Assistiu-se a uma liberalização da economia e da sociedade portuguesa, em parte imposta pela nossa adesão. Recebemos imensos fundos comunitários, que foram aplicados na construção de infra-estruturas. Surgiram, pela altura da Expo, conceitos estapafúrdios, inventados nos gabinetes de propaganda dos partidos, como a absurda “auto-estima dos portugueses”, que nos garantiam – provavelmente através de medições com “auto-estimamómetros” – ser enorme. Enfim, respirava-se e transpirava-se optimismo. Entretanto, com o surgimento do Euro em 2002, as taxas de juro desceram a pique e o consumo e o endividamento dispararam.

Só que a partir de 2000 temos vindo sempre a afastar-nos da média dos 25 e, em 2004, não íamos além dos 72,5% em termos de rendimento per capita, estando previsto que a divergência se acentue em 2005 e 2006. Chipre e Malta têm rendimento per capita superior a Portugal. A Grécia ultrapassou-nos em 2002 e dos 10 países que entraram em Maio do ano passado, a Eslovénia já está melhor do que nós e a República Checa, segundo as previsões da Comissão, ultrapassar-nos-á este ano. Ainda por cima, a União Europeia vive um período de desorientação, após os “nãos” francês e holandês à constituição europeia. Para já, discute-se as perspectivas financeiras para 2007-2013 e, fatalmente, os fundos estruturais e de coesão vão diminuir – hoje recebemos mais de 600 milhões de contos por ano. Resumindo: da Europa já vieram melhores ventos e a nossa “auto-estima” (seja lá o que isso for) já teve melhores dias. Felizmente, ainda temos o Benfica para animar a malta…

Por: José Carlos Alexandre

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