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Pois, Pois

A QUEDA. Quando a situação exigia uma sombra de bom senso, o PSD local decidiu enterrar, por muitos anos, as réstias de credibilidade ao anunciar a senhora Ana Manso como candidata à autarquia. À primeira vista, custa a perceber tamanha irracionalidade. Dá impressão que aquela gente não vive neste mundo. Que vive numa espécie de esquizofrenia política. Mas não. Naquela espécie de manicómio em que se transformou o partido, é possível vislumbrar naquelas cabecinhas uma certa lógica. A lógica do salve-se quem puder. Os nove elementos (num total de 13) da comissão política da concelhia que votaram nesta candidatura estavam obviamente a pagar os favores e os tachos que a senhora sábia e profusamente distribuiu no tempo das vacas gordas. E, portanto, só lhes restava a típica fuga para a frente. Por sua vez, Ana Manso está-se a borrifar para o partido e, obviamente, está-se a borrifar para a câmara. Sabe perfeitamente que não a ganha – os 27 por cento que o PSD obteve nas legislativas no concelho não deixam margem para ilusões. Então porquê a candidatura? Para evitar que alguém obtenha um bom resultado e lhe retire protagonismo e, por consequência, o poder que ainda lhe resta. De qualquer maneira, esta palhaçada vai acabar mal. Ana Manso, por ambições pessoais, sujeita o partido a uma derrota humilhante. No fim, perdem todos. A começar pela Guarda que precisava de uma alternativa séria e credível.

APRENDER COM A HISTÓRIA. Há um grande equívoco à volta do Teatro Municipal da Guarda (TMG), típico aliás do pensamento dominante em Portugal nestas matérias. Pensa-se que o agora possível aumento da oferta cultural vai gerar, por si só, um aumento da procura. Como se do chão e das paredes do edifício se levantasse um público que nunca existiu – ou, pelo menos, nunca se deu conta que existisse – para espectáculos ditos de qualidade. Erro crasso. Isto é um delírio, ainda por cima um delírio caríssimo. Esquece-se que esse tipo de eventos exige uma classe média forte e educada, que, desgraçadamente, não existe nem nunca existiu aqui ou em qualquer outro sítio de Portugal. É natural que no início as massas adiram. É o efeito novidade a funcionar. Mas isso vai durar pouco tempo. Depois, o mais provável é vermos o publico (a tal procura) a diminuir paulatinamente e a deixar alguns dos espectáculos ditos de qualidade às moscas. Espero que pelo menos o director artístico tenha o bom senso de não reger a programação por critérios estéticos pessoais. A programação deve ser a mais diversificada e abrangente possível. Se não, o desastre é iminente. Não é assim que se cria uma vida cultural numa cidade. É preciso tempo, educação e muito dinheiro. Por cá, faltam-nos pelo menos duas daquelas três coisas. É no entanto com agrado que vejo que os serviços educativos foram eleitos como uma das principais prioridades deste projecto. Tem de se apostar, desde já, em parcerias com as escolas, lares, etc. É a única maneira de evitar que num futuro, não muito longínquo, o TMG se transforme num monte de ruínas, à semelhança do Teatro Egitaniense, do Coliseu e do Cine-Teatro. Cada um destes com uma esperança de vida aproximada de 30 anos – o primeiro fundado em 1886 e o último encerrado em 1985 – e que na época também eram considerados das melhores salas de espectáculos do país. Acabaram mal. Espero que se tenha aprendido alguma coisa com a História.

Por: José Carlos Alexandre

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