CAIU A MÁSCARA. Imagino a tremenda desilusão de alguns milhares de jovens (inconscientes) quando ouviram o senhor Louçã dizer ao senhor Portas, num debate televisivo, que este não tem o direito de falar sobre a vida e, por conseguinte, do problema do aborto porque, ao contrário dele, não é pai e por isso “não sabe o que é o sorriso de uma criança”. Quem diria que a defesa da família tradicional viria do líder da esquerda que se auto-proclama progressista. Perante este tiro no pé, vieram logo, desesperados, outros bloquistas tentar emendar e justificar as afirmações do líder. A emenda foi pior que o soneto. João Teixeira Lopes afirmou que Louçã tentou apenas demonstrar a hipocrisia de Portas ao realçar a incoerência entre os comportamentos privados deste (sem especificar bem quais) e as suas posições conservadoras. Mas, então, como é que o senhor Louçã, que é casado e pai, pode, por exemplo, andar a defender as uniões de facto entre homossexuais e adopção destes de crianças? Este argumento é evidentemente um absurdo.
O que importa neste episódio é que esta seita mostrou a sua natureza intrinsecamente intolerante. Se pudesse, o senhor Louça e companhia não deixariam, à semelhança dos seus mentores (Trotsky, Lenine, Mao e outros beneméritos), que alguém exprimisse opiniões contrárias às suas. Para sua infelicidade, vivem numa democracia e por isso têm que, resignadamente, ir a eleições e tentar, de forma meramente oportunista, ganhar votos com questões sensíveis como o aborto.
ATÉ SEMPRE D.SANCHO. Na segunda-feira tiraram a estátua do rei povoador do sítio onde estava há 50 anos. Acho bem. A praça é triangular e por isso não faz grande sentido ter um monumento no centro. Mas confesso que quando vi o nosso rei amarrado a umas cordas e deitado num camião senti uma estranha emoção. Porquê? Não sei. Talvez porque só gostamos de um sítio quando o conhecemos bem. E a Praça Velha nunca mais vai voltar a ser a mesma. Há um sentimento de perda. No fundo, ser conservador é isso mesmo: sofrer sempre que se perde alguma coisa que conhecemos e gostamos.
CINCO ANOS DEPOIS. O Interior comemora o seu quinto aniversário. É ainda muito jovem mas já se tornou há muito tempo num jornal de referência, especialmente nas zonas mais urbanas da região. Ganhou o prémio Gazeta logo no seu primeiro ano de vida, ou seja, foi considerado o melhor jornal regional a nível nacional. E isto foi um feito absolutamente notável. Numa terra com fracos índices de leitura (mais baixos do que a média nacional) e, paradoxalmente, com bastante concorrência nesta área, O Interior é uma ilha de qualidade e, mais importante, de liberdade. Ao contrário do panorama geral cá do burgo o O Interior não nasceu da mama dos dinheiros públicos, mais concretamente das IPSS, instituições de solidariedade social que estranhamente sentem uma enorme atracção e apetite por este tipo de investimentos completamente estranhos à sua suposta vocação. Mesmo com esta concorrência algo desleal, O Interior preferiu nunca embarcar nos caminhos fáceis do sensacionalismo, do porreirismo e do situacionismo. Numa região sem grande tecido empresarial, a dependência dos poderes políticos torna-se mais acentuada, nomeadamente via publicidade, a principal receita de qualquer jornal. Era por isso muito mais fácil agradar aos poderes instalados. Enfim, as perversões típicas de uma sociedade que vive demasiado dependente do Estado e das autarquias. Cria-se um ambiente de inércia, de apatia, de medo. E lutar contra isto não é fácil. É mais fácil deixar-se ir pela onda. O Luís Baptista-Martins e um punhado de colaboradores têm lutado diariamente contra a corrente. Brindo a isso.
Por: José Carlos Alexandre