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Pois, Pois

UM EXEMPLO DE FAIR-PLAY. Mário Soares fez 80 anos na semana passada. Duas mil pessoas participaram num jantar em sua homenagem. Muitos comentadores afirmaram que mais ninguém em Portugal conseguiria juntar tanta gente num repasto deste género. É provável. É claro que isto se explica em grande parte pelo seu papel na implantação da democracia em Portugal e pelo seu lugar cativo na História de Portugal.

Sarsfield Cabral contava na semana passada que, em 1986, apoiou Freitas do Amaral na corrida à presidência da República. Na campanha, fez uma crítica violenta a Mário Soares na televisão. Pois bem, em 1987, era já Soares presidente, encontrou-o na inauguração de uma exposição nos Jerónimos. Esperava um cumprimento distante e frio. Mas não. Para seu espanto, Soares foi de uma simpatia esfuziante para com o seu antigo adversário. Porquê esta estória? Para sublinhar uma característica de Soares: o fair-play. Uma qualidade que não abunda nesta ditosa pátria e que foi decisiva para a unidade dos portugueses (não esquecer que estivemos à beira de uma guerra civil no PREC).

A ausência de fair-play na maioria dos líderes deste país muito contribuiu, na minha opinião, para a situação de bandalheira e caos em que diariamente chafurdamos. Dentro da maior parte das instituições há, ao que consta, um clima persecutório, de vingança e de rancor. Gente mesquinha que quando se apanha no poder, não perde a oportunidade para fazer, por todos os meios ao seu alcance, a vida a negra a todos os que simplesmente não o apoiaram. Até que um dia hão-de vir outros que hão-de fazer a vida a negra aos anteriores e assim sucessivamente. E não saímos disto.

É BEM FEITO. Fernando Lopes ganhou recentemente as eleições para a JSD do distrito da Guarda. Diz o moçoilo que vai ser o seu último mandato. É capaz, porque nas juventudes partidárias é-se jovem até aos 30 anos – se bem que a menina Jamila Madeira da JS tivesse tentado prolongar o limite até aos 35.

Convém lembrar que as juventudes partidárias são um dos maiores crimes cometidos pelos partidos. Com 30 anos, já muita gente está casada, tem filhos, uma carreira profissional, está a comprar casa, etc. Enfim, já se é adulto. É por isso completamente ridículo ver alguém com a idade de Fernando Lopes armado em jovem irreverente, quando já tem idade para ter juízo e para trabalhar como os outros. Os meninos e as meninas das jotas começam na mais tenra idade a chafurdar na politiquice. Em vez de estudarem, de namorarem, de lerem livros, ouvirem música, irem ao cinema, passam grande parte do seu tempo a instruir-se na intriga partidária. São uns parasitas. Gente que não tem uma ideia na cabeça, que não tem qualquer substância, que se limita a papaguear o discurso oco e vazio dos mais velhos. É um espectáculo absolutamente degradante ver estes jovenzinhos envelhecidos prematuramente a fazer exigências estapafúrdias de lugares e tachos na manjedoura do Estado.

Ora o “jovem velho” Fernando Lopes decidiu agora demarcar-se da sua líder distrital, Ana Manso. Diz o rapaz que há divergências de estratégia em relação ao PSD e que Ana Manso não deve ser candidata à câmara da Guarda (Aleluia!), ele que até Setembro tinha sido seu apoiante incondicional (Terras da Beira, 9/12/04). Porquê esta pirueta política? Lopes esclarece: a estratégia deve ser definida todos os dias – está no bom caminho, porque no caso do seu grande chefe esta é definida, como se sabe, hora a hora – e, portanto, no momento da entrevista era essa a sua estratégia. Não quer dizer que esta não mude um dia destes, obviamente. Na verdade, como ele próprio confessa, a viragem estratégica releva de um motivo pouco nobre: a líder esqueceu-se de levá-lo ao recente congresso do partido e o rapaz amuou. Mas já deu uma dica para a convergência estratégica: um lugar elegível para si nas listas para a Assembleia da República.

Ana Manso que se ponha a pau: esta garotada não brinca em serviço.

Por: José Carlos Alexandre

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