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Pois, Pois

NEM LINHA, NEM RUMO. O secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, viu na vitória do senhor Bush um aviso para a comunicação social indígena. Porquê? Muito simples: de nada serviu à comunicação social americana (já para não falar da europeia, que, para o caso, não conta) vergastar forte e feio o candidato republicano, pois este teve a maior votação de sempre em eleições nos EUA. Dito de outro modo, os jornalistas portugueses que tirem o cavalinho da chuva, porque o seu adorado chefe, tal como o Bush, tem uma linha de rumo, e isso é o que realmente interessa para ganhar votos.

O raciocínio do senhor Relvas até parece ter uma certa lógica mas, desgraçadamente, omite pormenores importantes. O senhor Bush tem, de facto, uma linha de rumo (errada, mas tem), mas ainda ninguém conseguiu perceber qual é a deste governo. O novo Pedrito de Portugal parece mais uma barata tonta, sem linha, quanto mais rumo. Para mais, há um pormenor que parece ter escapado ao senhor Relvas. O Pedrito é, antes de mais, uma celebridade mediática – um produto da tal comunicação social com a qual vive obcecado. Foi nessa qualidade que foi conquistando paulatinamente todo o poder que hoje tem. Ou seja, sem a comunicação social, o Pedrito deixa de respirar.

UM CONGRESSO. Ao contrário do que dizem as más-línguas, este congresso trouxe uma grande novidade: foi o primeiro que Santana Lopes conseguiu ganhar na sua já longa carreira política e, ainda por cima, com uma votação esmagadora. A verdade é que o Pedrito, e ao contrário daquilo que a contra-informação nos quer fazer acreditar, não é nenhum especialista a ganhar eleições. Nunca ganhou qualquer eleição a nível nacional. A sua eficácia neste domínio não foi além de uma vitória numa câmara secundária como a Figueira da Foz e em Lisboa – que foi sobretudo uma derrota de João Soares por uns míseros 800 votos devido à sua insuportável arrogância.

De resto, pudemos assistir, uma vez mais, aos discursos delicodoces do Pedrito, a apelar ao coração e que devem decerto fazer suspirar todas as sopeiras de Portugal. Destaco uma pérola da sua retórica: “o poder é algo efémero (…) e acima de tudo somos seres humanos, que temos família, amigos, choramos, rimos, entristecemo-nos.” (suspiros) Que bonito! Fez também uma confissão dolorosa: “é muito difícil governar um país nos dias que correm”. Pois é. Coitado do Pedrito, com uma missão tão difícil, logo ele que nem sequer estava preparado para o cargo que ocupa. Mas, atenção, é ele, e que fique bem claro, quem manda no governo. E fez questão de repetir isto uma dúzia de vezes, não fosse alguém ficar com dúvidas a esse respeito.

O Pedrito aproveitou também para avisar os barões do partido que devem dar o exemplo e ir à luta nas autárquicas, tal como ele fez no passado – leia-se: nos próximos tempos vão aparecer manchetes nos jornais a dar como certo, sei lá, Marcelo Rebelo de Sousa como candidato à câmara de Celorico de Basto. Como é sabido, o Pedrito é um homem moderno e, por isso, não convida as pessoas directamente, não senhor, prefere fazer os convites publicamente, através da comunicação social.

O Pedrito anunciou também Cavaco Silva como o seu candidato à Presidência da República, porque é o mais bem colocado nas sondagens. Além disso, o Professor é uma garantia da estabilidade da coligação – estranhamente, há um ano o Pedrito disse exactamente o contrário, devendo por isso na altura ser ele o candidato. Mas os tempos mudam e, já se sabe, as vontades também.

Por fim, o grande imbróglio. O futuro da coligação. Marques Mendes arrancou palmas da plateia quando disse preto no branco que o PSD deveria concorrer sozinho nas eleições que se avizinham. E o Pedrito, era já madrugada, com a voz embargada, defendeu a sua dama, sem a defender. Explico-me. O seu discurso foi vago e circular e o Paulinho, ao que consta, zangou-se a sério e deixou o governo todo a tremer de medo.

Não há dúvida, é mesmo muito difícil governar um país nos dias que correm com Santana Lopes como primeiro-ministro. Coitados de nós.

Por: José Carlos Alexandre

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