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Pois, Pois

A via socrática. José Sócrates é uma personalidade pouco socrática. O homem quase nunca tem dúvidas. Como explicou o Prof. Pulido Valente, estamos perante um fenómeno novo em Portugal: o «político programado», com uma imagem e uma pose estudadas ao milímetro, uma espécie de robot, que se limita a debitar meia-dúzia de frase inócuas que agradam a toda a gente. Pois bem, este robot prepara-se para se tornar o próximo secretário-geral do PS. Pelo menos, parece-me pouco provável que a esquerdalhada dinossáurica, representada por João Soares e Manuel Alegre, mereça grande consideração por parte da maioria dos militantes do PS. E, no entanto, corre por aí que a concelhia do PS-Guarda estará disposta a apoiar João Soares. Porque será? Por convicções políticas? Não. Nada disso. O motivo é bem mais prosaico. Pelos vistos, Maria do Carmo Borges está mesmo decidida a abandonar o navio socialista e, por consequência, os seus putativos sucessores estão a mexer-se. O arquitecto António Saraiva, presidente da concelhia, já manifestou interesse no cargo. Ora a eleição de Sócrates dá-lhe pouco devido à conhecida amizade deste com outro putativo sucessor de Maria: o engenheiro Valente.

Teoricamente, é a concelhia que indica o candidato do partido à Câmara; na prática, terão que aceitar as directrizes vindas de cima.

Moral da história: se o engenheiro Valente estiver interessado em ser candidato (e é provável que esteja), o arquitecto Saraiva e outras figuras menores terão que ficar em lista de espera.

Sem desculpa. Num país civilizado, Ana Manso já estaria liquidada politicamente. As suas palavras sobre Sousa Franco são absolutamente inqualificáveis, bem como as suas posteriores aldrabices sobre o seu eventual esclarecimento com o dito cujo, que a viúva Matilde fez questão de denunciar num texto publicado no Expresso. Reparem, a senhora nunca pediu desculpa pelo que disse, limitou-se a justificar-se e a acusar a esquerda e a comunicação social de má-fé. Coitada, afinal, ficámos a saber que, na sua humilde opinião, ela é apenas uma vítima da malvadez de mentes torpes e grosseiras.

Há muito tempo que não se via tanto descaramento de um político por estas bandas. E, no entanto, viram alguém do PSD cá da região a condenar o comportamento da senhora? Eu, pelo menos, não vi – curiosamente, do PS também não. Ficaram todos caladinhos, a ver como é que as coisas corriam. Mais, como prémio, a senhora é a mais que provável candidata à Câmara da Guarda pelo PSD. E não se espantem se ganhar as eleições. Eu já não digo nada. Desde que Santana Lopes chegou a primeiro-ministro, tudo é possível. Definitivamente, estamos entregues à bicharada e a culpa é dos que, por indiferença ou oportunismo, deixam passar em branco este tipo de atitudes.

O PS exulta. Ao contrário do que por aí se escreve e diz, a decisão de Jorge Sampaio foi altamente favorável ao PS. Senão vejamos. Livraram-se de Ferro Rodrigues, que nunca suscitou o menor entusiasmo ou confiança junto das hostes socialistas – já para não falar no resto da população portuguesa. A eleição presidencial de repente deixou de ser um problema, e, se Guterres concorrer, é trigo limpo. A Câmara de Lisboa está praticamente garantida. As presidenciais e as autárquicas, convém recordá-lo, são antes das legislativas e, por conseguinte, vão criar uma dinâmica irresistível de vitória. Se a isto somarmos o previsível desastre do Governo de Santana Lopes conclui-se que o PS se arrisca a ganhar, nos próximos dois anos, em todas as frentes. Queriam melhor?

Por: José Carlos Alexandre

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