O município de Figueira de Castelo Rodrigo comemorou o seu feriado na passada sexta-feira com a evocação de alguns momentos históricos e a inauguração de dois espaços pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
O primeiro foi a Plataforma de Ciência Aberta, em Barca d’Alva. Trata-se de um projeto recente da autarquia, em parceria com a Universidade de Leiden (Holanda), que está inserido na rede internacional Open Science Centre e cujo objetivo é aproximar a ciência, a tecnologia e a inovação da sociedade. Para o efeito, a Câmara readaptou a “velha” escola primária num investimento global da ordem dos 250 mil euros. «Parece-me que se encontram aqui vários aspetos que temos evidenciado no turismo. Não só a ideia de que tem que se estender pelo território, como a ideia de que temos que associar o turismo a espaços únicos», afirmou o governante, que defende que o turismo, quando associado ao conhecimento, «faz com que as pessoas fiquem mais tempo e tenham mais razões para voltar». Manuel Caldeira Cabral considerou ainda que a inauguração deste espaço «mostra, acima de tudo, como o dinamismo e a determinação de um presidente de Câmara pode fazer a diferença».
Paulo Langrouva não escondeu que as expectativas são elevadas e a autarquia espera que este novo espaço consiga atrair mais visitantes ao concelho. «Penso que este projeto será estruturante na economia do concelho e até do distrito da Guarda», considerou o presidente da Câmara, para quem esta plataforma é «inovadora, diferenciadora e tem uma potencialidade enorme». O edil sublinhou que não é «uma loucura» criar um projeto desta natureza numa «terra tão distante», justificando que concretizar este tipo de equipamentos «em zonas mais rurais, fronteiriças e despovoadas» é mostrar que a «ciência pode chegar a toda a gente». A ideia foi trabalhada por uma comissão internacional liderada pelo astrofísico Pedro Russo, natural de Figueira de Castelo Rodrigo, que também está ligado à Universidade de Leiden. «Este projeto tenta trazer a ciência, a tecnologia e a inovação a uma zona do país que está afastada dos grandes centros», afirmou o astrofísico, acrescentando que permitirá «mudar esse paradigma e mostrar que a ciência e a tecnologia podem ser feitas nesta região».
Mas porquê em Barca d’Alva e não na sede de concelho? Segundo Pedro Russo, a escolha deveu-se ao facto do «potencial turístico de uma plataforma como esta ser bastante grande» e que o objetivo é mostrar aos turistas que Portugal «não é só paisagem, gastronomia ou história». Ainda em Barca d’Alva foi assinado um protocolo com a Douro Azul visando a promoção de novas dinâmicas de turismo, nomeadamente através da requalificação do espaço que alberga os antigos edifícios da estação de caminhos-de-ferro da localidade ribeirinha. «É um momento histórico, muito importante e acho que vai ser um momento de grande mudança, principalmente para a freguesia de Escalhão», destacou Paulo Langrouva, admitindo que esta parceria entre aquele operador turístico e a autarquia tem-se revelado «profícua e importantíssima» para o desenvolvimento do concelho.
As comemorações prosseguiram com a inauguração da sala de provas da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo, onde foi apresentado e degustado o novo néctar “Pinking”, um vinho de uma categoria «nova» e «única no mundo». O dia terminou com o início da recriação histórica da Batalha da Salgadela, que se prolongou pelo fim-de-semana para evocar o marco mais importante da história do concelho: o dia em que as tropas portuguesas, sob o comando de Pedro Jacques de Magalhães, derrotaram os inimigos espanhóis que procuravam a todo o custo reassumir o domínio de Portugal.
Vinho “Pinking”
O “Pinking” teve origem num trabalho de investigação de mestrado em Enologia e já tem um pedido de patente nacional e internacional. «O que se pensou inicialmente ser um defeito de produção, afinal deu origem a uma nova categoria de vinho única no mundo», afirmou Jenny Silva, enóloga da cooperativa figueirense. Foi esta especialista que, em 2014, como estudante de mestrado de Enologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), identificou o fenómeno “Pinking” em conjunto com Fernando Nunes e Fernanda Cosme, docentes e investigadores do Centro de Química da UTAD. Trata-se, segundo Fernando Nunes, de um «defeito» historicamente conhecido pelo processo de «aparecimento de uma cor rosa-salmão em vinhos produzidos exclusivamente de uvas de castas brancas». O vinho Castelo Rodrigo Pinking 2016 é um DOC, exclusivamente vinificado a partir da casta branca Síria, a casta de eleição na Região Demarcada da Beira Interior, apresentando «aroma frutado e boca equilibrada com final harmonioso».
Sara Guterres