A Assembleia de Credores da Da Nascente – Águas de Mesa de Manteigas, proprietária da Glaciar, analisa hoje, no Tribunal da Guarda, o plano de recuperação da unidade. A redução a zero do capital social da empresa, que tem um passivo de cerca de 14 milhões de euros e mais de 100 credores, é uma das medidas propostas no documento elaborado por um técnico da BDO & Associados, empresa de auditoria, assessoria fiscal e consultoria, sediada em Lisboa.
Fonte conhecedora do processo adiantou a “O Interior” que o plano de recuperação «concluiu pela viabilidade da empresa», havendo três passos fundamentais para conseguir tal objectivo: a redução do capital social a zero, «uma situação normal nestes casos», a diminuição do crédito e também a «possibilidade dos maiores credores converterem o montante das dívidas em capital social», o que, na prática, equivale a dizer que passam a ser também «donos da empresa». A manutenção dos postos de trabalho dos cerca de 50 funcionários da fábrica de Manteigas é que parece não estar em perigo, uma vez que a redução do número de trabalhadores «não está prevista». Pelo contrário, «prevê-se é a expansão da unidade», revelou a mesma fonte. Por sua vez, Carlos Gomes, administrador da Água Glaciar, está confiante que o plano, elaborado por Paulo Ferreira Alves, da BDO, venha a ser aprovado pelos credores: «Tudo leva a crer que isso vá acontecer», acredita. Recorde-se que, apesar do tribunal ter obrigado a Da Nascente a declarar insolvência financeira, a Assembleia de Credores, reunida a 16 de Outubro do ano passado, decidiu «por unanimidade» votar a favor da sua continuidade.
De resto, a produtora de águas registou em 2006 um crescimento de vendas da ordem dos 23 por cento, comparativamente a 2005, tendo ainda lançado novos produtos no mercado. A maior “fatia” dos 14 milhões de euros de passivo pertence à banca. A situação de insolvência foi despoletada por um processo judicial interposto pela Aquaplásticos, da Marinha Grande, que considerou que a empresa de Manteigas já não tinha condições para lhe pagar uma dívida resultante do fornecimento de garrafas, que ascende a 2,3 milhões de euros. O projecto de criar uma empresa de exploração e engarrafamento de água em Manteigas remonta a 1990, ano em que foi adjudicada a concessão da nascente da Fonte Paulo Luís Martins aos promotores de uma das duas propostas apresentadas ao concurso público internacional aberto pela autarquia. Posteriormente, a 25 de Janeiro de 1993, foi constituída a firma Da Nascente – Empresa de Águas de Mesa de Manteigas, para ser formalizada, a 2 de Julho do mesmo ano, a transferência da concessão para a firma constituída pela proposta vencedora. Entre 1 de Janeiro de 1994 e 31 de Outubro de 1995 decorreram os licenciamentos junto do Parque Natural da Serra da Estrela, Junta Autónoma das Estradas, Câmara de Manteigas, Instituto Geológico e Mineiro e Direcção-Geral da Indústria. A 1 de Novembro arrancou a construção do pavilhão industrial, que ficou concluído a 1 de Janeiro de 1997. Nesse ano procedeu-se à instalação, montagem, ensaios e arranque de todo o equipamento industrial, tendo a produção de águas engarrafadas começado a 18 de Janeiro de 1998.
Ricardo Cordeiro