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Planeta Habitável –II

Mitocôndrias e Quasares

Na última edição desta crónica foi reiterado que a maior parte da vida na Terra foi protagonizada por organismos simples, unicelulares. Especialmente, pelas bactérias, os únicos destes seres que sobreviveram 3 mil milhões de anos. Embora a pergunta sobre como se geraram estas formas iniciais de vida careça de respostas absolutas, tudo parece indicar água como refúgio primitivo. A presença do ser humano sobre a Terra é, comparando com a história do planeta, insignificante.

Quando se reflete acerca da origem da vida Terra, a primeira questão que surge é onde se encontra o limiar entre seres vivos e a matéria inerte.

Uma das primeiras explicações que a ciência encontrou relacionava os organismos vivos com a sua capacidade metabólica, ou seja, com a capacidade de trocar substâncias com o exterior.

Contudo, esta explicação na atualidade não é satisfatória, pois exclui estados germinais de muitos seres vivos, como as sementes.

Ora bem, se se adicionarem outras características à capacidade metabólica, tais como a homeostase (equilíbrio interno), a irritabilidade, o desenvolvimento e a reprodução, a definição torna-se mais rigorosa e exata. Os organismos vivos seriam então aqueles conjuntos de células que possuiriam estas características estruturais e funcionais específicas.

Outro dos critérios que pode ser utilizado na identificação de seres vivos é a sua composição elementar. Existem quatro bioelementos básicos que compõem a matéria orgânica: carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto. Estes átomos combinam-se de diferentes formas para formar elementos complexos designados biomoléculas orgânicas, que são os hidratos de carbono, os lípidos, as proteínas e os ácidos nucleicos. Estas biomoléculas dirigem, controlam e regulam todas as reações químicas que permitem o desenvolvimento da vida. Recorrendo a modernas técnicas de datação foram encontrados vestígios de biomoléculas orgânicas com cerca de 4400 milhões de anos, pelo que se calcula que a vida tenha surgido nessa época. Esta ideia foi corroborada pelo estudo dos cristais de zircão que revelou que a água líquida já existia há acerca de 4400 milhões de anos, pouco tempo depois da formação da Terra, o que só poderia ter sido possível se existisse uma atmosfera, ainda que primitiva.

Esta ideia segue a linha de pensamento de Aleksnader Ivanovich Oparin e John Sanderson Haldane na hipótese acerca da origem na vida na Terra, que teve início no planeta a partir de uma atmosfera primitiva com características particulares que permitiram que a matéria inerte, como resultado de diversas reações físico-químicas, desse origem à matéria viva. Esta hipótese da década de 1920 foi comprovada empiricamente em 1953 através da experiência de Harold Urey e do seu aluno Stanley Miller.

Assim, conhecer as condições iniciais da atmosfera primitiva terrestre é fundamental para compreender como se iniciou a vida no planeta e o porquê da sua rápida evolução.

Sabe-se que a atmosfera primitiva era composta por: vapor de água, metano, amoníaco, ácido cianídrico e outros elementos em menor proporção. Todos eles estavam submetidos ao calor que se libertava dos vulcões, assim como à radiação ultravioleta proveniente do Sol e da desintegração de minerais radioativos. Além disso, a atmosfera primitiva carecia de oxigénio em estado livre, que é indispensável ao processo respiratório. Também não existia a chamada camada de ozono, que se situa nas zonas superiores da atmosfera e constitui um filtro natural das radiações ultravioletas que atingiam diretamente a superfície da Terra. Nesse contexto, também estavam presentes raios cósmicos e atividade elétrica e radioativa, fontes de energia no planeta. O arrefecimento da Terra provocou a condensação do vapor de água, que se precipitou soba a forma de chuvas torrenciais e, ao acumular-se sobre a superfície terrestre, originou o oceano primitivo.

A partir daqui, estavam lançadas as bases para a formação de vida na Terra, e se algum dos planetas que “anda” por ai no Universo tiver estas condições, talvez hajam mais formas de vida.

Por: António Costa

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