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Planeta Habitável – I

Mitocôndrias e Quasares

Na passada semana a NASA (agência espacial norte-americana) anunciou a descoberta da existência de um planeta na zona orbital habitável do sistema planetário Kepler 22, a 600 anos-luz da Terra, no qual poderá haver condições para a formação de água em estado líquido. Este novo planeta segue em linha com outros dois anunciados anteriormente, o que perfaz um total, até ao momento, de três planetas fora do Sistema Solar em zona orbital habitável. Mas em que consiste esta zona orbital habitável?

A região espacial situa-se em torno de uma estrela onde o nível de radiação emitida permite, a que num determinado planeta/satélite natural dentro dessa região, exista água no estado líquido. Se olharmos para a figura 1 podemos verificar que a Terra se encontra nessa região. O outro planeta onde se tem insistido em pesquisar diversas formas de vida é Marte, porque se encontra próximo do limite dessa região (fig.1). Este conceito de zona orbital habitável é bastante consensual entre a comunidade científica como fator para determinar se determinado corpo celeste pode ou não albergar alguma forma de vida semelhante à que existe na Terra. Contudo, este fator não é o único que deve ser abordado quando se reflete acerca da origem da vida na Terra. Apesar de não haver um acordo unânime acerca da forma como evoluiu a vida na Terra, existem alguns marcos da sua história que são consensuais entre a comunidade científica.

Os geólogos e paleontólogos, tendo por base estudos químicos do período Pré-Câmbrico, estabeleceram que as primeiras formas de vida surgiram na Terra há cerca de 3800 milhões de anos.

Nessas análises, puderam determinar que os estromatólitos – camadas de rochas produzidas por comunidades de microrganismos – mais antigos que contêm micróbios fossilizados são de há cerca de 3450 milhões de anos. Por outro lado, os fósseis moleculares, que são derivados dos lípidos da membrana plástica e da restante célula, confirmam que certos organismos semelhantes a cianobactérias habitaram os oceanos arcaicos há mais de 2700 milhões de anos. Estes micróbios eram foto-autotróficos (alimentavam-se a partir de luz) e a sua função foi libertar oxigénio para a atmosfera. Esse oxigénio começou a acumular-se há cerca de 2200 milhões de anos e transformou, definitivamente, a atmosfera terrestre.

Também, através dos depósitos laminados de ferro e das faixas vermelhas posteriores, produto dos óxidos de ferro, é possível rastear o aparecimento da fotossíntese e o surgimento da uma atmosfera rica em oxigénio e não redutora. Todos estes elementos foram requisitos necessários para que se desenvolvesse a respiração aeróbica, há cerca de 2000 milhões de anos.

A partir destas alterações, foram sendo originados, primeiro, os procariotas (células sem núcleo diferenciado) e, depois, quando ocorreu uma alteração na estrutura celular, os organismos eucariotas (células com núcleo) a partir de bactérias antigas que, mediante processos diferentes, foram evoluindo até originar mitocôndrias. A evidência bioquímica e paleontológica mostra que as primeiras células eucarióticas surgiram há aproximadamente 2000 – 1500 milhões de anos.

A história da vida na Terra foi a história dos eucariotas unicelulares, dos procariotas e das arqueas até há cerca de 610 milhões de anos, que foi o momento em que surgiram, nos oceanos, os primeiros seres multicelulares, alvo de análise da próxima edição deste espaço.

Por: António Costa

Escala de uma região do espaço que teoricamente poderia haver zonas habitáveis composta por estrelas de diferentes tamanhos

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