A última segunda-feira foi dia de festa em Pinhel com as comemorações do Dia da Cidade. O ponto alto das festividades foi a inauguração da Casa da Cultura no antigo Paço Episcopal, numa cerimónia apadrinhada pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. Para já, o edifício alberga apenas o Museu José Manuel Soares, mas o município já definiu que também a Biblioteca e o Museu Municipais vão ali ficar instalados.
Na sessão solene do Dia da Cidade, o presidente da Câmara realçou que a Casa da Cultura «já era um projeto antigo e um desejo que foi sendo adiado por vários motivos e por vicissitudes várias», chegando-se agora à altura em que «tudo se conjugou». Rui Ventura agradeceu a «generosa oferta/doação do espólio do mestre José Manuel Soares» que, «apesar de não ter ligações ao concelho de Pinhel», encontrou no Município «a abertura e a vontade de acolher, preservar e promover a sua obra grandiosa, ímpar, reconhecida, mas talvez um pouco esquecida pelo facto de não estar em lugar público». O edil salientou que a criação da Casa da Cultura permite, por um lado, satisfazer «o desejo do pintor e da sua esposa, de saber que a sua obra terá, de agora em diante, os cuidados de preservação que merece e a exposição que contribuirá para a sua divulgação e para um maior conhecimento do mestre e da sua obra, nomeadamente por parte dos públicos escolares, um dos públicos-alvo desta infraestrutura». Por outro, também vai de encontro à intenção da autarquia «de prosseguir uma estratégia municipal de valorização da cultura, em geral, e dos patrimónios em particular».
Rui Ventura frisou que o momento da inauguração ficará «gravado» na sua memória, naquilo que é um «um projeto concretizado e um sonho tornado realidade». O autarca enalteceu que o Museu «é digno de se ver» e «pode afirmar-se como um polo de atração de turistas e visitantes». Em virtude do seu estado de saúde, o Mestre José Manuel Soares não pôde estar presente, tendo sido representado pela sua esposa Ângela Soares que ouviu e retribuiu os agradecimentos do presidente do município. O investimento na Casa da Cultura rondou os 200 mil euros, um número destacado pelo autarca que garante que tem «cada vez mais zelado por encontrar soluções baratas e esta é uma solução feliz. O que pedi aos arquitetos foi que me arranjassem uma solução que dignificasse o edifício mas que fosse barata porque não vivemos tempos para desbaratar dinheiro». Dentro de um ano deverão ser inaugurados, também no edifício da Casa da Cultura, a Biblioteca e o Museu Municipais. «Queremos colocar em baixo a Biblioteca Municipal e todo o espólio que há 20 anos não está exposto em Pinhel que é o do Museu Municipal», explicou o edil.
Dirigindo-se ao secretário de Estado da Cultura, Rui Ventura pediu-lhe para que desse a conhecer ao Governo o «esforço imenso» que o município de Pinhel «tem vindo a fazer no sentido de dotar a cidade e o concelho de equipamentos dedicados à cultura, equipamentos que funcionam realmente, que não são apenas espaços ou edifícios».
O governante ouviu o repto do autarca e retorquiu que «o caminho que o concelho tem seguido é virtuoso e leva-nos a acreditar que Pinhel pode vir a ganhar mais residentes e visitantes». Jorge Barreto Xavier manifestou «muita honra» em estar a participar numa cerimónia num município «antigo que se debate com as vicissitudes do interior do país», mas que tem «demonstrado uma grande energia para garantir o desenvolvimento do concelho». O secretário de Estado defendeu que Cultura e Educação «têm de andar de mãos dadas», elogiando ainda o restauro efetuado no «magnífico espaço que vai projetar culturalmente o concelho de Pinhel».
Novas empresas a caminho de Pinhel
Rui Ventura confirmou a O INTERIOR que uma nova fábrica de calçado oriunda da zona de Felgueiras vai começar a laborar no Centro Logístico de Pinhel, nas antigas instalações da Rohde, a partir de outubro.
O autarca adianta que a unidade poderá atingir «cerca de 80 postos de trabalho de uma forma progressiva no prazo de um ano», devendo arrancar com 35 funcionários. Recorde-se que no mesmo espaço já funciona outra empresa também de Felgueiras que deverá chegar aos 80 postos de trabalho. Rui Ventura frisa que a instalação destas duas empresas surge no seguimento do trabalho que a Câmara tem feito de «promover o espaço» e tendo em conta que há «mão de obra qualificada» de antigos trabalhadores da Rohde que continuavam no desemprego. Para além deste importante «pressuposto», outro é o concelho disponibilizar «instalações» a que se juntam ainda «o incentivo do ponto de vista logístico e no sentido da disponibilidade da Câmara de tentar ajudar na burocracia»
No Centro Logístico de Pinhel, vai começar a ser instalada ainda esta semana outra empresa que vai «fazer a comercialização dos produtos endógenos» com o intuito de «promover a agricultura de uma outra forma». A iniciativa é privada e deverá criar 16 postos de trabalho, com a Câmara a apoiar com o espaço «dentro das regras específicas que protocolámos tal como fizemos com as outras empresas». Deste modo, o autarca acredita que «no espaço de um ano poderemos chegar aos 150/160 postos de trabalho no concelho na área do calçado».
Projetos de cultura podem ser «âncora para alavancar outros recursos do território»
A inauguração do Museu dedicado ao Mestre Soares contou também com a presença de Ana Abrunhosa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC). Para esta responsável, a implementação deste projeto representa «uma aposta estratégica da autarquia numa nova oferta cultural» que pode ser relevante para atrair novos públicos ao concelho e à região.
Para Ana Abrunhosa «a cultura e a história são muito importantes para traçarmos o futuro» e podem contribuir sobremaneira para o desenvolvimento regional. Mas, segundo a presidente da CCDRC, «o caminho é fazerem-se estes projetos em rede», pois, individualmente, não se conseguem criar dinâmicas e «ganhos» para a região, «porque o problema é que o turista vem, passa, mas não fica, ou fica muito pouco tempo, o que implica poucas receitas para os territórios». A dirigente defende que «só havendo uma rede é que se consegue que as pessoas passem mais dias nos territórios para conhecerem as suas vivências e a sua cultura e património», acrescentando que estes «projetos de cultura podem ser âncora para alavancar outros ativos e outros recursos do território. E é com projetos diferenciadores que podemos contribuir para o desenvolvimento dos territórios», assevera.
Em relação ao próximo quadro comunitário, a presidente da CCDRC salienta que «vamos ter projetos específicos para os territórios de baixa densidade mas têm de ser sempre projetos com esta lógica de projetos integrados de desenvolvimento» porque «os recursos do território e as pessoas dos territórios são a chave, e não é só no turismo, também em outra atividades, como a agricultura ou a floresta», por exemplo, para se poder «conseguir sustentabilidade e futuro nos territórios». Ana Abrunhosa explicita que a «estratégia de desenvolvimento é construída de baixo para cima e tem de haver interligação entre projetos público e privados».
Ana Abrunhosa reconhece que não é possível inverter a tendência de desertificação em que o interior vive, referindo mesmo que «nós nunca vamos contrariar a sangria que houve neste território mas podemos estancar essa sangria e temos obrigação de dar qualidade de vida às pessoas que aqui vivem» acrescentando que essa deve ser a obrigação dos decisores políticos.
Ricardo Cordeiro